O Espírito Santo depende como nunca da ação organizada de seus políticos, do Palácio Anchieta à bancada federal em Brasília, para tentar reduzir os danos da trágica devolução da concessão da BR 101 pela Eco101. É o momento de traçar estratégias e estabelecer uma articulação política firme, franca e sem rodeios, para que os impactos da decisão da concessionária de jogar a toalha não criem um abismo intransponível para a duplicação da rodovia, que já vinha a passos lentos por impasses contratuais e de licenciamento ambiental.
Não é exagero exigir essa mobilização dos representantes eleitos, com o envolvimento da sociedade civil organizada. A BR 101 precisa ser a maior bandeira do Estado neste momento. A modernização da rodovia tem um aspecto civilizatório por tudo aquilo que ela envolve. O Espírito Santo está estrategicamente localizado no mapa brasileiro, mas ainda continua aquém de seu potencial logístico pela debilidade de sua malha viária. Com infraestrutura de qualidade, os investimentos chegam.
Enquanto a BR 101 não deslancha, são empregos que deixam de ser criados, é riqueza que deixa de ser gerada.
Ao mesmo tempo, uma rodovia duplicada e com a manutenção em dia protege vidas. De acordo com dados do Anuário 2021 da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a BR 101 registrou no ano passado 1.746 acidentes em seu trecho capixaba, que tem aproximadamente 460 quilômetros de extensão. É uma tragédia não só pelas mortes, mas pelos sobreviventes com ferimentos graves, com sequelas físicas e psicológicas.
É esse contexto que faz o destino da BR 101 se confundir com o próprio destino do Espírito Santo. Não há futuro com uma rodovia ultrapassada, com perigos a cada curva. Já está definido que não cabe ao Estado brasileiro a execução de obras dessa dimensão, a concessão à iniciativa privada continua sendo a saída mais lógica e racional, mas o país ainda falha demais na elaboração dos seus contratos. É esse o cerne da ineficiência registrada na, por ora, finada concessão pela Eco101.
As autoridades capixabas devem se sentar à mesa e discutir as alternativas, inclusive a própria renegociação com a Ecorodovias deve estar entre as possibilidades. A realização de um novo leilão precisa de celeridade, mas não em um nível que prejudique a confecção de um contrato bem elaborado, sem brechas para cronogramas elásticos demais. E o próprio governo federal precisa ser cobrado a estabelecer parâmetros de licenciamento ambiental mais racionais.
O colunista Abdo Filho noticiou que o governador Renato Casagrande aguarda o agendamento de uma reunião, solicitada por ele, com o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, e com o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rafael Rodrigues, para tratar o tema. Em ano eleitoral, teme-se que a questão não seja tratada com a devida prioridade por toda a classe política. É preciso reforçar: a situação crítica da BR 101 não permite adiamentos, uma solução deve ser encaminhada o quanto antes.
A BR 101 atravessa o Espírito Santo de norte a sul, é seu principal eixo do transporte rodoviário. Os capixabas têm muito a perder se a crise se arrastar, sem definições sobre o futuro da rodovia. Por isso, é hora de lutar por ela.
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