Atualização
23 de agosto de 2024 às 18:08
Na tarde desta sexta-feira (23), a pequena Laura Beatriz, de 5 anos, teve morte cerebral confirmada pelos médicos. Este jornal lamenta mais essa perda para a violência no trânsito
Uma mulher carrega sua filha no colo. Aguarda o sinal verde para os pedestres e começa a atravessar, na faixa, uma avenida de Vila Velha. Se não houvesse as imagens, que circularam muito desde a quarta-feira (21), a parte mais angustiante dessa violência despropositada ficaria omitida: Mara Núbia Borges, com a filha Laura Beatriz, de 5 anos, nos braços, não sabe o que fazer quando o carro se aproxima. A vulnerabilidade daquela mãe diante do inevitável é comovente. Impossível assistir sem perder o fôlego.
Um fôlego que precisa ser recuperado para lutar, como sociedade, por um trânsito menos violento. Qualquer pessoa pode ser a próxima vítima: dentro de um carro, sobre uma motocicleta, atravessando uma rua... todo dia, alguém chora a morte de um familiar ou amigo nessas circunstâncias. Não dá para banalizar essa calamidade cotidiana.
Estamos batendo insistentemente nesta tecla nos últimos meses, por acreditar que a selvageria nas ruas, avenidas e estradas já passou de todos os limites. E que algum tipo de mobilização é necessária.
Como já foi dito neste espaço, os semáforos deixaram de ser uma sinalização obrigatória. Os condutores decidem por si próprios, independentemente da cor que aparece lá no alto, se seguem ou não. Muitas vezes em alta velocidade. Afinal, não há nenhum tipo de penalidade: em pleno século XXI, não há radares e câmeras na Grande Vitória para flagrar quem comete essa infração, cada vez mais frequente no trânsito. Então, sinal vermelho serve para quê?
Também insistimos para que haja mais fiscalização. Onde estão o Batalhão de Trânsito, as guardas municipais, o Detran quando mais precisamos? Todos sabem que a onipresença é humanamente impossível, mas essas autoridades precisam se fazer mais presentes. Para que condutores irresponsáveis não sigam na crença de que as ruas são terra de ninguém.
O caso do atropelamento da mãe e da filha também traz à tona indagações sobre a legislação. O marido e pai das vítimas, em uma entrevista emocionante, mostrou sua indignação com a liberação do motorista, que abandonou o local sem prestar socorro às vítimas e, mais tarde, se apresentou à polícia, pagou fiança e foi liberado. Mesmo que isso não signifique que ele tenha se livrado das implicações penais, pois vai responder ao processo, é difícil aceitar que a omissão de socorro não motive a prisão imediata.
Nesta quinta-feira (22), uma reportagem de João Barbosa apontou os locais na Grande Vitória em que os avanços de semáforo são mais comuns. Foram em média 97 infrações por dia no primeiro semestre deste ano. Ora, essas são somente as que foram flagradas, na surdina esse número é muito maior. A infração é gravíssima, com perda de sete pontos na Carteira de Habilitação e multa de R$ 293,47. Diante dos abusos, e das tragédias como a desta quarta-feira decorrentes da falta de civilidade dos condutores, vale o debate sobre punições mais duras nesses casos, no âmbito criminal. É inaceitável que vivamos em um mundo no qual sinais vermelhos e vidas humanas não signifiquem mais nada.
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