Os registros de 2022 apontaram uma queda de 20,5% no número de feminicídios no Espírito Santo na comparação com 2021. Um avanço que já foi comemorado neste mesmo espaço, resultado das políticas públicas que nos últimos anos vêm ampliando a rede de proteção institucional à mulher. Não dá para negar que a violência de gênero ainda extrapola os níveis aceitáveis, mas sua redução se transformou em uma meta civilizatória, compartilhada por governantes e sociedade.
Voltamos ao tema em função de mais uma estatística expressiva: o número de agressores de mulheres presos no Espírito Santo subiu 21,6% em 2022. O que é chocante pela simples comprovação de que foram realizadas 2.573 prisões em função desse tipo de violência (2.159 pessoas foram presas em flagrante e 414 por meio do cumprimento de mandado de prisão) em um ano, mas ao mesmo tempo é um sinal de reação, de que não há mais lugar para o silêncio.
Entre os crimes notificados à Polícia Civil, estão os de injúria, ameaça e lesão corporal. Também houve aumento de 16,38% no número de medidas protetivas solicitadas, passando de 8.152 para 9.488. Em 2022 também foram registrados 17.707 boletins de ocorrência, 27,3%a mais que em 2021.
Acompanhadas, as estatísticas dimensionam a reação citada antes, resultado de uma legislação mais avançada (a Lei Maria da Penha) que ganhou popularidade e disseminou a noção de que é preciso denunciar qualquer tipo de violência, mesmo no ambiente doméstico. Em briga de marido e mulher não se metia a colher, o ditado foi atualizado e mobiliza a denúncia de terceiros. Sobretudo a partir da última década, entrou em curso a construção de uma cultura que condena a omissão.
Tanto o Judiciário quanto as forças policiais estão mais preparados no direcionamento das medidas necessárias quando diante de casos de violência de gênero. O descaso ainda pode existir, mas passou a ser a exceção, não a regra. E é combatido institucionalmente. Com o fortalecimento da percepção do que são o machismo e a misoginia, fica mais simples combater os seus efeitos, materializados em violência.
Vale repetir que continua sendo assustador que mais de 2,5 mil pessoas tenham sido presas por esses crimes em um ano, o que visto de forma inversa aponta a quantidade aproximada de mulheres que sofreram todo tipo de violência, em um contexto no qual foram colocadas em posição de submissão. Claro, a subnotificação não pode ser desconsiderada, uma resistência à denúncia justificada pela persistência da cultura machista. Mas ela há de ser derrotada.
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.