O calor registrado nas últimas semanas tem afetado a rotina de todo mundo. Mas a de uns (bem) mais que a de outros. Quem, para dar o exemplo mais óbvio, passa o dia de trabalho em um ambiente com ar-condicionado é evidentemente privilegiado. Mas o problema é mais amplo: a própria organização das cidades impõe uma distinção que separa aqueles que sofrem mais com o calor daqueles que, apesar dos pesares, tem condições de suportá-lo.
Na Grande Vitória, as chamadas "ilhas de calor", regiões com pouca arborização que sofrem com o aumento da temperatura e da sensação térmica, ficam localizadas em bairros mais pobres. Há outros aspectos envolvidos, como geografia, relevo e adensamento urbano, que podem provocar aumento na temperatura de 0,5 ºC a 8 ºC. Na Capital, a região da Grande Maruípe e os bairros que abrangem o Território do Bem, como Bairro da Penha, Bonfim e São Benedito, são exemplos de localidades que concentram esse calor.
Em muitos desses bairros, a ocupação foi desordenada, e os imóveis foram erguidos com o que estava mais à mão, sem procupações, por exemplo, com os materiais usados ou com a ventilação. Ações como a pintura das casas e prédios com cores mais claras podem ajudar a reduzir os efeitos do calor, mas diante da atual organização urbana, o plantio de árvores e a preservação das áreas verdes restantes é o que pode efetivamente diminuir as ilhas de calor.
O impacto da arborização é perceptível por qualquer pessoa que passe pelas ruas. Na Avenida Rio Branco, na Praia do Canto, a ciclovia inaugurada no ano passado foi construída sob a sombra das árvores. O conforto que elas garantem ali é tanto que pedestres com frequência são flagrados usando o espaço como calçada, o que não é permitido. Já a ciclovia da Avenida Leitão da Silva, não arborizada, é uma travessia desafiadora para os ciclistas em dias de sol e calor. Os pedestres nem se arriscam.
Especificamente em Vitória, a prefeitura atualizou em maio do ano passado o Inventário da Arborização Urbana, que mostrou que a cidade tem 34.479 mil árvores. Mas visivelmente elas estão mais concentradas nos bairros nobres.
Plantar mais árvores na Grande Vitória é impulsionar uma onda verde que vai contribuir para a redução das desigualdades. É dar saúde, dignidade e qualidade de vida para mais pessoas. As ondas de calor serão cada vez mais frequentes, um dos impactos das mudanças climáticas. Estudos mostram que a infraestrutura verde, com um aumento de 30% na cobertura arbórea das cidades, já seria capaz de reduzir os riscos à saúde provocados pelo calor.
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