Quando três pessoas de uma mesma família morrem em um acidente de carro, a dimensão da tragédia cotidiana no trânsito fica ainda mais explícita. É um porta-retratos espatifado, é o vínculo maior entre as pessoas desfeito em segundos, sem que seja possível qualquer tipo de reação. É inaceitável que tanta gente continue morrendo de forma tão banal.
No último sábado (31), um casal de avós e o neto de 4 anos perderam a vida em uma colisão violenta na Rodovia do Sol, em Anchieta, enquanto a mãe da criança foi levada para o hospital em estado grave. O motorista do outro veículo também foi ferido com gravidade.
Não há informação sobre a dinâmica do acidente, portanto o objetivo deste espaço não é apontar as responsabilidades desse caso específico, mas sim lamentar e se indignar por todas as famílias desfeitas sem que motoristas passem a adotar a prudência ao volante, sem que estradas sejam duplicadas e estejam totalmente sinalizadas em todo o Espírito Santo. As imagens dos automóveis envolvidos no acidente da noite de sábado (31) é chocante demais para não causar alguma reação emocional em cada cidadão. Fotografias que não se diferem, pela brutalidade, de tantos outros acidentes.
De janeiro a junho deste ano, 347 pessoas perderam a vida no trânsito no Espírito Santo, de acordo com dados do Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo. O que mostra que, estatisticamente, duas pessoas morreram nessa situação no primeiro semestre de 2021. Um número 6,8% maior que o de 2020, com 325 perdas.
Importante lembrar que de março a junho de 2020 foi o momento das maiores restrições de circulação da pandemia. A barbárie nas ruas, avenidas e estradas não deu trégua nem mesmo nessa situação extraordinária, e as mortes seguem fazendo parte da rotina.
A violência no trânsito, como já foi dito neste espaço, transita entre a banalidade e a banalização. Ao mesmo tempo que são perdas humanas evitáveis com mais cautela e atenção ao volante, o que inclui a consciência de que não se deve associar o uso de álcool ou outras substâncias à direção, os números de mortes e acidentes já não conseguem ter o impacto que deveriam ter. O lamento é passageiro, pois em breve um novo acidente tirará mais vidas de supetão. E, nessa toada trágica, nem mesmo os rigores da legislação de trânsito são capazes de frear os números, que crescem ano a ano.
Cabe fazer uma ressalva, pois o desrespeito à legislação não diz respeito apenas a motoristas e motociclistas: pedestres e ciclistas, as partes mais vulneráveis no trânsito, também ignoram regras fundamentais nas ruas em nome da pressa e da impaciência. O trânsito acaba sendo caótico e disfuncional quando as próprias prioridades se impõem sobre os princípios básicos e regulamentados de convivência.
O Código Brasileiro de Trânsito foi atualizado em abril passado, o que não significa necessariamente que tenha sido aprimorado. Com uma série de alterações que foram consideradas um abrandamento da legislação, houve ao menos um aumento de rigor para quem faz uso de bebida alcoólica e provoca mortes.
Mas a mudança que se espera não vai sair do papel em que as leis são talhadas: o que falta ainda é o compromisso de cada motorista com a vida dos outros e até mesmo com a própria. A civilidade no trânsito deveria preceder qualquer regra, como instinto de sobrevivência.
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