Diante das imagens vistas nesta semana, em que fortes ondas destruíram muros de contenção, calçamento, areia da praia e até o trecho de uma rodovia, o leitor José Maria Gonçalves ancorou-se na ironia para demonstrar a indignação: “Este país tem dinheiro sobrando, tem até para jogar no mar”. Isso porque apenas três prefeituras gastaram no mínimo R$ 5,7 milhões nos últimos oito anos para construir estruturas que o mar carregou.
Por pouco não houve danos mais graves, como o histórico do Espírito Santo registra. O aposentado Rubens Luiz Kroeff, de 69 anos, escapou da morte ao cair com o carro no mar, devido ao desabamento de parte da Rodovia ES 060, em Guarapari. Uma vida foi poupada, mas a tragédia da estrada é anunciada. Há mais de duas décadas este jornal publicava reportagens sobre os problemas causados pela erosão na estrada, construída colada ao mar.
A ação natural do mar sobre o litoral resulta em problemas econômicos e sociais de Norte a Sul do Estado, mas é nas faixas mais povoadas que se concentram os problemas, justamente porque eles são agravados pela ação humana. Há relação direta com obras costeiras, como casas, estradas e portos, e a destruição de freios naturais para a erosão, entre eles a vegetação de restinga.
“Para o gestor público, o prefeito, empreiteiro, é muito mais fácil culpar o aquecimento global e fingir que suas obras não têm impacto nenhum. Afinal, o aquecimento global não tem CNPJ”, afirma o oceanógrafo Michel Mahiques, um dos autores do recente livro Panorama da Erosão Costeira no Brasil, que reuniu pesquisadores de 27 universidades do país, em entrevista à BBC. As análises mostram que 60% do litoral brasileiro é afetado pela erosão.
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O que não dá é para culpar o mar. A saída é investir em ações para mitigar os impactos, como os conhecidos enrocamentos e píeres, e em estudos que guiem futuras ocupações humanas. Sem dados e sem gestão, o que se verá é a repetição de tragédias como a da Bugia, em Conceição da Barra. Em março de 1995, o secretário estadual de Obras Públicas declarava a este jornal que desconhecia o projeto elaborado um ano antes por uma consultoria para solucionar a erosão e assoreamento do Rio Cricaré, que estava nas mãos de outro secretário de governo. Meses depois da declaração infeliz, os moradores viram suas casas carregadas pelo mar.
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