Um anacronismo pode ser o julgamento de acontecimentos de outras épocas com as lentes do presente, desconsiderando o impacto da passagem do tempo nessa avaliação. A partida de Max Mauro — e o consequente repasse de sua vida pública, sobretudo à frente do governo estadual na segunda metade da década de 80, em tantas homenagens — tira qualquer perspectiva de anacronismo de cena: mesmo com os olhos de hoje, o que fica sobre a sua passagem pelo Palácio Anchieta é a marca de um governo atemporal.
A entrega da Terceira Ponte é um marco dos grandes projetos de mobilidade, ainda uma das grandes demandas dos nossos tempos. Assim como a formulação do Sistema Transcol para a Grande Vitória, que organizou o que era só caos (pagar uma passagem única para circular por toda a região metropolitana pode parecer algo banal hoje, mas em muitos centros urbanos do país isso ainda está longe de ser uma realidade).
E o que falar das preocupações ambientais? Da preservação da Mata Atlântica remanescente, passando pelo combate à poluição do ar na Grande Vitória e à iniciativa de despoluição da Baía de Vitória. Max Mauro, no que diz respeito a esses temas, estava atento às demandas ecológicas que começavam a ganhar espaço no debate público naqueles tempos e, neste século 21, passaram a ser obrigatórias.
A maior justiça quanto ao seu legado, contudo, deve ser feita no que diz respeito ao que possibilitou todas essas entregas: a responsabilidade fiscal. Um governo que começou austero para, no último ano de mandato, recuperar a capacidade de investimento. Max Mauro foi um gestor moderno, que entendeu que para fazer do povo a sua prioridade deveria sanear as finanças do Estado. E conseguiu. Assim, foi possível colocar o social em primeiro lugar, com o zelo pela coisa pública.
Também se posicionou como uma liderança ética, reconhecida assim por seus pares, ao nunca se colocar acima das instituições democráticas. Um político conectado com o seu tempo, naquele momento em que as expectativas eram altas após os pesados anos de ditadura no país.
Enfrentou o crime organizado e, com mais saúde institucional e financeira, preparou o Espírito Santo para tempos melhores, o que infelizmente, pelas circunstâncias políticas posteriores ao seu mandato, só se consolidou mais de uma década depois. É incontestável, contudo, que o governo Max está no DNA desse Espírito Santo que vivenciamos hoje, reconhecidamente próspero.
No folclore político, Max Mauro foi apelidado de "tartaruga", porque suas decisões e obras eram consideradas lentas naquela época. Mas o tempo (sempre ele) é o senhor da razão. Como em Eclesiastes, Max Mauro mostrou que tudo tem seu tempo, e não se coloca um estado como o Espírito Santo de pé do dia para a noite sem muito trabalho e confiança.
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