Mesmo pequena, queda de homicídios em 2021 deve ser celebrada

Das mortes que ocorrem no contexto do tráfico aos crimes de proximidade, mais difíceis de entrarem no radar da violência, o fato é que essa redução nos homicídios segue a tendência de pacificação testemunhada na última década

Publicado em 05/01/2022 às 02h02
Crime
Jovem de 27 anos é encontrado morto em uma casa em Alecrim, Vila Velha, em outubro passado. Crédito: Fernando Madeira

queda de 3,89% nos homicídios em 2021 parece ínfima, mas não deve ser recebida sem entusiasmo pela sociedade capixaba. Em primeiro lugar, pelo aspecto puramente humano, que não pode ser desprezado diante das estatísticas. O percentual não é insignificante sobretudo por apontar que 43 vidas, gente de carne e osso e não meros números em uma tabela, foram poupadas no ano que terminou no Espírito Santo, quando os dados de 2021 são colocados frente a frente com as mortes violentas de 2020.

Em segundo lugar, pela perspectiva estratégica. A redução foi pequena, em um ano no qual a criminalidade não deu trégua. O enfrentamento de organizações criminosas que se ramificam no Estado e de gangues que exercem o domínio nos bairros continuou se mostrando um desafio para a segurança pública.

Das mortes que ocorrem no contexto do tráfico aos crimes de proximidade, mais difíceis de entrarem no radar da violência, o fato é que essa redução nos homicídios segue a tendência de pacificação registrada na última década, e nunca houve uma queda abrupta. Não há soluções mágicas na segurança pública, está comprovado empiricamente que o que dá resultado é o trabalho contínuo. Políticas de Estado, que perpassem governos. Com possibilidade de realinhamentos entre uma gestão e outra, mas sem desmonte.

Em 2019, houve um reforço de ânimos quando os números apontaram, pela primeira vez desde os anos 90, menos de mil homicídios durante um ano. Mas 2020 veio como um balde de água fria, por razões que já nem precisam mais ser ditas. A pandemia ainda estava no início quando, com a escalada das mortes, houve rápida troca no comando da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), que permanece até hoje. O ano fechou com 1.103 homicídios, tornando-se um ponto fora da curva como o ano de 2017, marcado pelo aumento de homicídios pressionado pela greve da PM.

Mesmo que 2020 tenha colocado o Espírito Santo no patamar acima das mil mortes violentas novamente e que em 2021 a queda em relação ao ano anterior não tenha sido suficiente para tanto, é preciso considerar que o ano passado registrou o segundo melhor resultado (ficando atrás somente do já mencionando ano de 2019) da série histórica de homicídios, iniciada em 1996. E o triênio  (2019, 2020 e 2021) passou a ser o período com menor número de mortes violentas.

De um lado, a Região Metropolitana da Grande Vitória teve uma queda de 14,1% em 2021. É relevante que a região com maior concentração populacional e os maiores desafios de segurança pública tenha conseguido esse êxito. Do outro, a Região Noroeste teve um aumento expressivo de 23,1%, o maior entre as regiões capixabas. É o momento de analisar erros e acertos, comparar as ações nas diferentes cidades. E se inspirar nos seis municípios que não registraram nenhum homicídio em 2021: Ponto Belo, Muniz Freire, Laranja da Terra, Itarana, Ibiraçu e Bom Jesus do Norte.

Mesmo com os altos e baixos, há uma tendência que é positiva. Resultado não somente do enfrentamento direto do crime, em operações como a Sentinela, que prendeu 201 traficantes e 169 assassinos em 2021 no Espírito Santo, mas também dos esforços de manter a presença do Estado nos bairros onde a criminalidade se instala, de forma sistemática.

Não é errado encarar a situação da violência no Espírito Santo com uma dose de ambiguidade:  de 2009 para cá, as mortes violentas caíram quase pela metade no Estado. Como não celebrar essa avanço civilizatório? Ao mesmo tempo, é inevitável lamentar que, em um ano,  1.060 pessoas tenham sido assassinadas.  Como não se indignar com tamanha atrocidade?

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