As feridas causadas pela chuva devastadora da madrugada de 22 de março, que atingiu o Sul do Espírito Santo, continuam abertas um mês depois na cidade mais afetada, Mimoso do Sul, onde ocorreram 18 das 20 mortes registradas durante o temporal.
Além do luto pelas vidas perdidas, há as lutas pessoais e coletivas para recomeçar, diante dos prejuízos que afetaram a vida das famílias e a própria economia da cidade. A necessidade de reconstruir ou reencontrar um novo lar, a longa caminhada para reestruturação do comércio e até mesmo os impactos na saúde pública.
A água lava a lama da cidade, a mesma água que naquela madrugada a depositou nas ruas. Mais de 110 toneladas de lama e entulhos foram retiradas nesses 30 dias de trabalho ininterrupto, com 20 caminhões-pipa fazendo diariamente esse serviço. Um trabalho que muitas vezes precisa ser refeito, porque, com a limpeza das residências e do comércio, a lama acaba voltando para as ruas. Tudo é recomeço.
A luta e o luto de Mimoso mostram o quanto a reconstrução é dolorosa. Toda a dinâmica da cidade é alterada; em Mimoso, nove escolas estão com atividades remotas. O impacto na vida das pessoas é incalculável.
Mimoso, um mês depois, também serve de alerta para a prevenção. Há obras que podem ser feitas, há protocolos de mobilização emergencial da população, há mudanças urbanas que podem salvar vidas. Os eventos climáticos extremos passaram a ser regra, não exceção. Sem essa percepção, continuaremos sofrendo muito e repetidamente.
O município teve, em uma única madrugada, um dlúvio de proporções bíblicas, uma noite que não se apagará da memória de nenhum morador. O luto é uma fase importante no processo de perda, a luta não pode cessar quando a cidade enfim se recuperar: o aprendizado é que o empenho coletivo, direcionado pelos governantes, por ações urbanas e ambientais que reduzam o impacto das chuvas não pode ter fim.
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