O déficit habitacional no Brasil possui nuances que passam despercebidas por quem não vive o problema. Não se trata só da falta de teto, mas de todas as condições desfavoráveis de moradia. O adensamento é excessivo, situação que ocorre quando muitas pessoas precisam compartilhar o mesmo quarto, assim como é comum a coabitação, com mais de uma família dividindo o mesmo imóvel. A pandemia de coronavírus, com sua cartilha de isolamento social, está tirando essa situação dramática encarada por tantos brasileiros da invisibilidade e expondo que a mais efetiva forma de prevenção ao contágio acaba sendo um privilégio.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trabalhados em reportagem deste jornal publicada na semana passada mostram a dimensão desse problema no Espírito Santo. São mais de 147 mil famílias morando em residências onde três pessoas ou mais precisam compartilhar cada dormitório.
Quase metade está nos quatro municípios da Grande Vitória, em sintonia com o cenário brasileiro, que tem nos grandes centros urbanos o epicentro desse drama. Como os números são do Censo de 2010, a defasagem é certa. Para pior, diante da tragédia econômica que se abateu sobre o país desde a metade da década.
As péssimas condições sanitárias se impõem também como um agravante à saúde associado ao déficit habitacional, em um país no qual a universalização do tratamento de esgoto ainda parece estar no campo das utopias, embora seja algo viável quando há vontade política para atrair investimento privado. A falta de acesso à água tratada expõe cotidianamente essas pessoas a uma vasta lista de doenças infecciosas; a Covid-19, oportunista, encontra assim as condições favoráveis para se espalhar.
A precariedade das moradias é, portanto, uma questão de saúde pública. A pandemia talvez seja a oportunidade de as autoridades públicas e a própria sociedade civil lançarem um olhar mais cuidadoso para essa realidade, que não é nova.
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É o momento de se enxergar que há um aspecto ecológico, de um equilíbrio necessário, com a consciência de que, se parte das pessoas está mais suscetível a doenças, toda a população está. É preciso cuidar uns dos outros, criando condições de vida digna. Moradia e saneamento são marcos civilizatórios que, infelizmente, carecem de ser mais valorizados também fora dos tempos de crise. Até porque, para essas pessoas, nunca deixa de ser.
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