Quando alguém morre à espera de atendimento médico, o sistema de saúde ganha relevo pelo fracasso. Mesmo que essa cena não seja mais tão comum na saúde pública no Espírito Santo — nem mesmo na maior crise sanitária deste século houve o colapso do sistema a deixar faltar atendimento —, uma única vítima é suficiente para causar comoção e indignação. Morrer por falta de um leito é morrer por descaso puro e simples.
No final de semana, Idalia Barcelos Campos, de 82 anos, foi vítima dessa negligência após a espera de 26 horas por um leito em um hospital. No sábado (20), ela deu entrada no PA do Trevo de Alto Lage, em Cariacica, com sintomas de fraqueza, falta de ar, perda de apetite, tosse com sangue e febre. O genro da idosa disse que ela apresentava saturação muito baixa, abaixo de 70. Após atendimento e medicação, teve uma pequena melhora e a equipe médica do plantão informou que ela precisaria de uma vaga em um hospital. Foi então incluída no sistema de regulação de vagas da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
A Sesa informou que a vaga para a paciente estava sendo providenciada, mas o agravamento súbito de saúde impossibilitou a conclusão da transferência. A Secretaria Municipal de Saúde de Cariacica (Semus) explicou que no domingo (21), a paciente teve uma parada cardiorrespiratória e, após tentativas de reanimação, não resistiu e veio a óbito.
Após mais de um dia de espera por uma vaga. Não deveria ter sido assim. Mas é justo dizer que, com a piora do quadro de saúde, a idosa recebeu o atendimento que estava à altura do Pronto Atendimento. Contudo, naquele momento ela já não deveria mais estar ali. Os procedimentos para a transferência da paciente para um atendimento especializado não deram conta da urgência do caso, portanto, eles falharam.
O sistema de regulação de leitos na rede estadual trouxe mais eficiência a um modelo que já foi caótico, mas isso não ameniza as críticas quando se registra uma morte pela demora de se encontrar uma vaga para uma paciente que apresenta um quadro grave e instável. São casos de vida ou morte, mais agilidade é imprescindível. Um pronto atendimento se destina a pacientes de média complexidade e encaminha os mais graves aos hospitais. Idalia precisou de um leito e não conseguiu. Uma vítima por falta de atendimento é sempre o suficiente para decretar uma omissão.
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