Toda a dinâmica do assassinato do contador Rodrigo da Vitória, de 44 anos, em plena tarde de domingo no bairro Bela Aurora, em Cariacica, é acompanhada com apreensão por quem assiste às imagens registradas pelas câmeras de segurança. O inevitável desfecho trágico, testemunhado inclusive por uma criança, alimenta a indignação ao expor a vulnerabilidade das pessoas a qualquer hora do dia, até mesmo em frente de casa. O desabafo do irmão da vítima descreve bem o desamparo que se sente atualmente: "A gente não pode continuar enterrando pessoas de bem".
O latrocínio, ou roubo seguido de morte, é o crime que mais apavora. No universo dos assassinatos registrados no Espírito Santo, é notório que os principais casos estão relacionados a acertos de contas no contexto da criminalidade, bem como os crimes de proximidade, mais imprevisíveis.
O latrocínio é um crime de oportunidade, mas também é regido pela imprevisibilidade enquanto ocorre. A vítima pode ser qualquer pessoa no radar dos bandidos, e a morte depende das circunstâncias da abordagem e, em muitos casos, da insegurança ou frieza dos criminosos. É um crime sempre cruel e covarde, sem distinção de classe social.
O Espírito Santo registrou três latrocínios no intervalo de quatro dias, neste mês de fevereiro. Trata-se de uma modalidade que tem oscilações de registros da metade da década passada para cá, mas desde 2020 as estatísticas apontam um crescimento. Foram 39 crimes dessa natureza naquele ano, seguido por 43 em 2021. Em 2019, o número estava em 25.
As cobranças por mais policiamento nas ruas são válidas, mas a polícia nunca conseguirá estar em todos os locais ao mesmo tempo. A banalidade com que bandidos cometem essa atrocidade mostra que há pontos mais profundos que precisam ser adentrados pelas políticas públicas, de forma estrutural. Mas, obviamente, também é preciso punir com rigor.
Só há o que se lamentar com o fato de ser mandatória a adoção de cuidados por parte das pessoas, mas ainda não há outra forma de se precaver das abordagens de bandidos. Evitar permanecer dentro de veículos parados ou usar o celular ostensivamente na rua são duas das precauções mais citadas por especialistas em segurança pública.
Mas o caso de Bela Aurora é chocante por mostrar que permanecer de conversa com amigos na calçada em um fim de tarde pode ser também um risco. Não há tranquilidade no ambiente público, um absurdo que no Brasil é a normalidade. "Ah, mas ele não deveria ter reagido", dirão muitas pessoas. Sim, essa é a orientação, o principal conselho no caso de uma abordagem criminosa. Mas isso jamais pode ser usado para justificar uma atrocidade.
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