A combinação entre brutalidade e banalidade. As imagens que mostram a morte da jovem Beatriz, de 18 anos, que estava na garupa de uma moto enquanto o marido realizava uma manobra perigosa — o chamado "grau", gíria para o ato de empinar o veículo —, causam um incômodo indescritível. Uma tragédia anunciada por um comportamento cada vez mais comum nas ruas.
Tanto que o casal de Cariacica usava as redes sociais para exibir o "grau" de moto, com o veículo apenas sobre uma das rodas, em diversas ocasiões. E não se trata de um caso isolado: é possível dizer que atualmente existe uma verdadeira cultura em torno da realização dessas manobras em todo o país. No Espírito Santo, não é diferente.
No final de novembro, esse exibicionismo fez uma outra vítima. Um jovem de 20 anos estava no meio da pista na ES 356, em Sooretama, fazendo vídeos de motos que faziam manobras e malabarismos quando foi atingido por uma delas, conduzida por um adolescente de 17 anos. Não resistiu.
No início do ano passado, um motoboy foi morto após ser atingido por jovens que realizavam manobras em suas motos em Cachoeiro. Em 2020, um jovem de 21 anos morreu após empinar a moto, perder o controle e se chocar com poste em Cariacica.
Os registros de intercorrências no trânsito envolvendo essa prática parecem ter ficado mais comuns a partir de 2021, assim como as reclamações de moradores sobre os "rolezinhos", reuniões de grupos de motociclistas que causam barulho e cometem infrações de trânsito, principalmente na madrugada.
As autoridades de trânsito nos âmbitos municipais e estadual até realizam fiscalizações periódicas principalmente na Grande Vitória, há registro de prisões e apreensões nos últimos anos, mas não conseguem inibir esse comportamento. Quanto mais blitze, melhor, é claro. É a repressão, com a presença do Estado nas ruas, que pode colocar um freio a essa afronta às leis de trânsito. O "grau" é considerado uma infração gravíssima pelo Código de Trânsito Brasileiro.
Desde a pandemia, as motos se tornaram um meio de sustento importante para muitos jovens, e há cada vez mais desses veículos nas ruas. Para além do delivery, os aplicativos de transporte de pessoas também explodiram e são cada vez mais usados para a locomoção nas cidades. No primeiro semestre de 2024, a venda de motocicletas no país teve o melhor desempenho em 17 anos.
Nesse contexto, é preciso apelar também para a sensibilidade desses motociclistas, que veem no "grau" um ato de rebeldia. Circular de moto já coloca esses condutores em vulnerabilidade, mesmo aqueles que se preocupam com a segurança e a prudência. A realização de manobras tão arriscadas é uma emoção passageira, que pode se transformar em uma tristeza que será carregada por toda a vida. Isso, se ela própria não for perdida.
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