Mortes em atropelamentos são imagem brutal da irresponsabilidade no trânsito

Cenas como as registradas em acidentes recentes causam comoção, mas não a ponto de mudar o comportamento de motoristas imprudentes. No ano passado, 121 pessoas morreram atropeladas no Estado

Publicado em 15/02/2022 às 02h00

Impossível não se atordoar com as imagens do atropelamento de duas mulheres no acostamento da BR 381, em São Mateus, no final de semana. O choque provocado pela violência sem sentido registrada pelas câmeras, com a morte fulminante daquelas duas amigas e trabalhadoras, traz um incômodo difícil de ser colocado em palavras. 

Quando é capturada em imagens, a violência no trânsito deixa ainda mais explícita a sua banalidade. Mostra como vidas que aconteciam, em suas rotinas, são brutalmente interrompidas em segundos, o que em muitos casos poderia ser evitado com uma direção mais consciente.

Outro caso recente no Espírito Santo também provocou comoção: uma menina de 4 anos foi atropelada em uma estrada de terra, em Domingos Martins, por um condutor sem habilitação, em alta velocidade. Felizmente, a criança sobreviveu e deixou a UTI no início deste mês. As cenas também são fortes, perturbadoras.

Os casos se mostram como uma recorrência inaceitável,  não podem se normalizar. São imagens pesadas, que precisam ser capazes de mudar o comportamento de tantos motoristas que, por negligência, imprudência e imperícia no trânsito, com condutas que também associam o consumo de álcool à direção, transformam veículos em armas letais.

Atropelamentos como os retratados nessas cenas são brutais pelo seu desequilíbrio, um ser humano que não resiste ao impacto de uma máquina. No ano passado, de acordo com o Observatório de Segurança Pública do Espírito Santo, foram 121 vítimas desse tipo de acidente no Estado, um aumento de 1,7% em relação a 2020.

No último sábado (12), um homem atropelou e matou um pedestre na Rodovia das Paneleiras, na Serra. Mesmo com a ingestão confirmada de bebida alcoólica pelo teste de etilômetro, ele não permaneceu preso, de acordo com a Polícia Militar, porque permaneceu no local e prestou socorro à vítima. O acidente não foi registrado pelas câmeras, mas fotos do veículo mostram a parte dianteira bastante danificada. A marca do impacto é também a marca da violência.

Atropelamento
Caminhonete danificada após atropelamento e morte na Rodovia das Paneleiras, na Serra. Crédito: Internauta

Em abril do ano passado, a mudança mais significativa no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi a determinação de que a pena de reclusão não pode ser substituída por outra mais branda, de restrição de direitos, nos casos de lesão corporal e homicídio causados por motorista embriagado ou sob efeito de outra substância entorpecente. Mas é uma determinação que vale para o trânsito em julgado, quando não cabem mais recursos, o que gera confusão com esses casos nos quais os condutores são liberados logo após o acidente, sem prisão preventiva.

No caso de Domingos Martins, o condutor sem habilitação se livrou da prisão com pagamento de fiança de R$ 5 mil. A determinação sobre a prisão, nesse estágio, é do juiz. Um outro acidente trágico ocorrido em dezembro passado, no qual mãe e filho foram atropelados e mortos em um ponto de ônibus na BR 101, em Iconha, seguiu outro caminho. Dois meses depois, a Justiça expediu mandado de prisão preventiva contra o motorista, cujo teste de alcoolemia acusou 0,53mg/l.

O que vai determinar a impunidade ou não será a agilidade da Justiça. E essa é uma luta que a sociedade não pode perder de vista, diante do volume inaceitável de mortes no trânsito causadas pelo mau comportamento dos motoristas ao volante. Em 2021, o Espírito Santo registrou 18,6 mortes por cem mil habitantes no trânsito. A Organização Mundial de Saúde (OMS)Organização Mundial de Saúde (OMS) considera crítico qualquer número acima de 10.

As cenas violentas registradas com tanta frequência nas vias também são um grito por mais civilidade no trânsito. Nesta segunda-feira (14), uma imagem de uma carreta que invadiu uma casa em Viana resume bem essa tragédia brasileira. Felizmente sem deixar vítimas, o acidente é mais um caso no qual a combinação entre álcool e direção resulta em cenas inacreditáveis e, acima de tudo, inconcebíveis.

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