É com recorrência que as mortes no trânsito ganham destaque neste espaço. E há razão para tanto: são mortes que revelam as marcas de uma violência cada vez mais banalizada. Perdas humanas abruptas, muitas vezes resultado de comportamentos imprudentes em um trânsito desumanizado, mas também decorrentes das carências de infraestrutura viária e da falta de fiscalização.
No último feriadão, as mortes nas estradas não deram trégua. Em Itaguaçu, na ES 164, uma rodovia estadual, a colisão de um veículo com uma árvore provocou uma cena impressionante:
O motorista, de 34 anos, não conseguiu escapar com vida. As autoridades policiais disseram que não era possível determinar as causas do acidente, mas informaram que o veículo invadiu a contramão antes de se chocar com a árvore.
Na noite de domingo (24), um acidente com moto no km 72 da BR 262 tirou a vida de Paulo Mazzoco, presidente da Associação Festa da Polenta (Afepol), uma perda que provocou justa comoção no Estado.
Contudo, a morte não apareceu no balanço da Operação Tiradentes, da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na divulgação feita pela assessoria, o texto foi o seguinte: "Não foi registrada nenhuma ocorrência com vítima fatal nas rodovias federais capixabas no período da operação, que ocorreu das 00:00 do dia 21/04 até as 23:59 do dia 24/04".
A justificativa para a ausência da morte de Paulo Mazzoco nas estatísticas foi dada pela mesma assessoria da PRF-ES, quando questionada por este jornal: "A vítima saiu com vida do acidente, desta forma não configura como acidente fatal". Trata-se de uma escolha metodológica, mas que impacta nas estatísticas de mortes no trânsito e passa a sensação de uma tranquilidade no trânsito que não condiz com a realidade. Como esse número não é atualizado com as mortes que, apesar de não terem ocorrido no local, são decorrentes da violência no trânsito, há uma defasagem perigosa, que embaça o que realmente ocorre nas estradas brasileiras.
E não é só isso: as estatísticas são guias que podem indicar trechos rodoviários com maior índice de letalidade, o que serve para apontar possíveis falhas viárias que, se corrigidas, podem salvar vidas. Dados estatísticos contam uma história, mas é preciso saber escutá-la.
São informações não somente sobre acidentes, mas também sobre o fluxo viário, que ajudam a endossar obras importantes como as recém-anunciadas na BR 101: a abertura dos contornos de Fundão e Ibiraçu certamente se basearam em estudos com essas estatísticas, até mesmo pela inviabilidade da duplicação no perímetro urbano.
Assim como o bom comportamento ao volante, a fiscalização ativa e a melhoria da infraestrutura viária, as informações sobre acidentes e mortes nas estradas ajudam na implementação de políticas públicas para o trânsito. Não são meras informações avulsas: quando retratam a realidade e são bem trabalhadas pelos gestores públicos, passam a ser importantes ferramentas na prevenção de acidentes.
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