No último final de semana, nem houve tempo para aliviar um pouco a dor da morte de um menino de 2 anos, vítima de bala perdida em Rio Marinho, Vila Velha, atingido durante um tiroteio, na quinta-feira (17), no qual moradores relataram ter ouvido mais de cem disparos. A violência aleatória que pega quem está no caminho fez mais duas vítimas na noite de sábado (19), no Ibes, e na tarde de domingo (20), em Barramares, ambos bairros também de Vila Velha.
As circunstâncias acabam sempre variando muito pouco, e o desfecho trágico também se repete. A criança de Rio Marinho acompanhava a mãe até uma padaria do bairro quando foram surpreendidas por um ataque de cerca de 30 traficantes que transformaram o local em uma praça de guerra.
Já no sábado, no Ibes, a estudante de Direito Julia Gláucia Ribeiro Pereira, de 31 anos, foi uma das pessoas atingidas por tiros disparados por dois homens que passavam de motocicleta. No dia seguinte, em Barramares, Lucelia de Jesus Sousa, de 42 anos, foi alvejada acidentalmente durante uma perseguição policial, e não se sabe de onde partiu a bala.
Moradores de bairros com violência conflagrada são os mais vulneráveis a essa atrocidade, que interrompe vidas inocentes que deveriam seguir seu curso normalmente. As três vítimas dos últimos dias estavam no espaço público, onde não há proteção quando eclode algum tipo de conflito. É um salve-se quem puder que expõe as desigualdades e a ausência do Estado no sentido do desrespeito às garantias fundamentais de qualquer pessoa que viva nesses locais. Nem mesmo dentro de casa há segurança. Neste mês de fevereiro, completaram-se dois anos da morte da pequena Alice, também em Vila Velha, vítima de bala perdida no quintal de casa, um caso que provocou comoção.
Vítimas de balas perdidas não podem ser tratadas como um efeito colateral nem por bandidos que travam suas guerras nem por forças policiais a postos para combatê-los. São vítimas de uma selvageria instaurada, que inclui desde a falta de preparo no manuseio de armas de fogo até a própria banalização de seu uso.
Bandidos têm acesso a armamento cada vez mais pesado, enquanto a legislação facilita o acesso às armas. O debate sobre o tema é pouco racional sobre o estado de guerra no qual o país está inserido. É preciso levar em consideração que há armas demais circulando, com o risco de caírem nas mãos de criminosos, além de conter o comércio ilegal que constrói os arsenais criminosos. Só assim será possível sair do lugar. Leis mais duras são necessárias, mas também foco investigativo capaz de descapitalizar as organizações criminosas. Sem recursos, elas têm mais dificuldades de se armar.
A impunidade, nesses casos de balas perdidas que vitimam tantos inocentes, também deve ser combatida. Há dois anos, quando a pequena Alice foi morta, reportagem deste jornal mostrou que, de sete mortes nessas circunstâncias registradas nos meses anteriores, apenas duas tinham suspeitos de realizar os disparos presos. Um dos crimes mais covardes é também ainda cercado pela impunidade. Encontrar os culpados é não só a forma de fazer justiça, como serve de exemplo.
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