Uma pessoa está parada na calçada, com um celular na mão. Uma moto encosta. Os dois trocam poucas palavras, enquanto a pessoa que aguardava coloca o capacete e se acomoda atrás do motociclista. Eles partem.
Quem costuma observar o movimento das cidades com atenção sabe o quanto essa cena virou rotina. Os serviços de mototáxi existem há muito tempo no país, mas nos últimos anos evoluíram para a oferta por aplicativos. No caso da Uber, cujo serviço de moto completou quatro anos em novembro, há dados: uma pesquisa realizada em parceria com o Datafolha mostra que 44% dos entrevistados têm o hábito de utilizar o serviço no país.
O crescimento do uso dessa modalidade de transporte tem explicação simples: o seu custo. A própria pesquisa aponta que 79% desses usuários pertencem às classes C, D e E. Não há como não olhar para esse fenômeno e associá-lo às deficiências do transporte público nas grandes cidades. A moto é mais prática, rápida, deixa a pessoa na porta e é mais barata. É justo que tanta gente seja assídua.
A solução para tanta gente, contudo, vem trazendo problemas no trânsito. Em 2024, de acordo com dados do Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo de janeiro a novembro, houve um crescimento de 21,1% nas mortes em acidentes envolvendo motocicletas em relação ao mesmo período de 2023. Mais da metade das vítimas de acidente de trânsito de janeiro a novembro deste ano no Espírito Santo estavam em uma moto.
Não há dados disponíveis sobre o número de acidentes envolvendo motos por aplicativo, mas o noticiário tem mostrado casos preocupantes, como a morte de uma passageira em um acidente na Serra em outubro, assim como acidentes e irregularidades. Em novembro, um condutor fugiu de uma blitz em Vitória com uma cliente na garupa, pois não tinha CNH. Neste mês de dezembro, um motociclista se acidentou com uma cliente em Vila Velha.
Há uma falta de ordenamento nesse tipo de transporte que parece estar perto de sair do controle, pelo simples fato de que não há regulamentação para o uso de motos por aplicativo no país. Há um vácuo legislativo que precisa ser preenchido com regras mais rigorosas para quem decide transportar passageiros e fazer disso uma forma de renda. Mais do que a formação obrigatória, com CNH da categoria A, a conduta do motociclista no trânsito precisa ser avaliada e fiscalizada.
Um ponto pouco falado diz respeito, inclusive, à postura dos passageiros. Quem decide adotar a moto por aplicativo como meio de transporte precisa aprender como se comportar, pois é um veículo no qual o equilíbrio é um fator de segurança. Assim como exigir equipamentos de segurança e denunciar os maus condutores. É uma questão ampla de educação no trânsito, os passageiros são também fiscalizadores.
O sucesso das motos por aplicativo são um sintoma da mobilidade urbana precária, com custo alto e falta de conforto. Circular pela cidade na garupa de uma moto é uma realidade que precisa ser encarada com seriedade. O que falta é colocar ordem, impedindo os maus condutores de prestarem o serviço.
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