O governo brasileiro está errando a estratégia ao tomar partido em uma guerra que não é dele, sem se atentar que poderia tirar grandes proveitos econômicos da situação. O mercado nacional de internet tem tamanho potencial de crescimento que o interesse de Estados Unidos e China deveria colocar o Brasil na vantajosa posição de dar as cartas sobre a decisão de qual tecnologia de quinta geração (5G) adotar no país. Mas, ao tentar excluir o gigante asiático, derruba-se um dos pilares do livre mercado: a concorrência. O que pode acabar entregando o ouro aos norte-americanos sem que eles façam muito esforço.
Essa subserviência é danosa, um alinhamento a qualquer preço que não pode pautar negociações tão substanciais para o avanço tecnológico do país. É preciso analisar as propostas com frieza e cálculo, sem apegos ideológicos anacrônicos, alimentados por teorias conspiratórias. O que está em jogo será decisivo para o país ingressar na próxima fronteira da internet, com impactos determinantes na competitividade.
O 5G vai transformar setores como a indústria, o agronegócio, o transporte e a medicina em uma nova etapa revolucionária da conectividade. O Brasil não pode se abster de uma decisão técnica sobre a infraestrutura que será determinante para não ficar na retaguarda internacional.
A vinda do conselheiro de segurança nacional Robert O’Brien ao país nesta semana teve a ostensiva missão de pressionar o governo Bolsonaro a tirar a chinesa Huawei do páreo. Para conseguir que a empresa seja excluída do leilão da telefonia celular previsto para o ano que vem, o governo norte-americano partiu para o ataque, oferecendo financiamento às operadoras brasileiras, muitas delas usando redes Huawei já presentes por aqui. Ou seja, a empresa já está no país há anos, mas quem comprovadamente espionou o Brasil foram os Estados Unidos, como revelado no escândalo da Agência Nacional de Segurança (NSA) no início da década.
É em uma situação dessas que um governo deve se impor, evocando a soberania nacional que tanto defende. Não significa fechar as portas para a proposta norte-americana, longe disso. Inclusive, se ela for a mais vantajosa para o país, merece ser a escolhida. O mesmo vale para a chinesa. O que se pede, mais uma vez, é racionalidade.
A forma como a China tem sido escanteada, agora também com a guerra da vacina, não condiz com o fato de o país asiático ser o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. É uma nação ainda totalitária que conseguiu com seu capitalismo de Estado superar as amarras do comunismo — adaptado na economia, mas ainda com graves problemas de direitos humanos e liberdade de expressão — e se tornar a potência mundial que rivaliza com os Estados Unidos. E vale ressaltar: nem os norte-americanos deixam de ser importantes parceiros comerciais dos chineses.
Este vídeo pode te interessar
Nessa guerra de peixes graúdos, o Brasil deveria aproveitar para exigir de cada um as melhores condições para a implantação do 5G. O céu deveria ser o limite, mas o governo brasileiro parece se contentar com a planície. É o momento oportuno de colocar em prática o tal “Brasil acima de tudo”.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.