2020 foi um ano de reviravoltas educacionais que se refletem até na forma de se expressar. Se antes, para se referir à evasão escolar, era comum recorrer à metáfora "fora da sala de aula", desde o ano passado esse recurso deixou de ser capaz de exprimir a realidade dos estudantes brasileiros.
Literalmente, todos passaram a ficar, por algum período, longe das escolas. Mas o efeito desse afastamento se manifestou, e permanece se manifestando, de formas diferentes, deixando ainda mais expostas as desigualdades no acesso ao ensino.
Um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) conseguiu quantificar o impacto do primeiro ano de pandemia no Espírito Santo. Em 2020, mais de 77 mil adolescentes e crianças "ficaram fora da sala de aula" no Estado, o que no caso emblemático do ano passado se refere aos alunos que abandonaram os estudos e também àqueles que não tiveram acesso aos materiais de atividades não presenciais.
A exclusão digital e as carências de infraestrutura ficaram ainda mais evidentes. Nesse caso, revela-se uma lástima: os alunos é que, na verdade, foram abandonados.
No Espírito Santo, em fevereiro deste ano, o governo estadual anunciou a distribuição de notebooks a alunos e professores como forma de reduzir a defasagem tecnológica que prejudica o ensino remoto. No contexto pandêmico, é necessário estar preparado para a recorrência do fechamento de escolas, o que acabou ocorrendo novamente em março. Nesta sexta-feira (07), deve haver uma definição sobre o retorno às salas de aula — literalmente, neste caso — nos municípios que recuarem ao nível moderado do Mapa de Risco.
Por mais que a suspensão das aulas presenciais com as eventuais pioras da crise sanitária gere um debate ferrenho entre especialistas na área de saúde, educadores e pais, o foco dos gestores públicos deve ser o de uma educação mais inclusiva e de qualidade, em qualquer circunstância.
A evasão é um problema crônico, agravado drasticamente na pandemia, mas que vinha sendo combatido, com resultados sensíveis. O estudo do Unicef aponta que, de 2016 a 2019, a exclusão escolar vinha diminuindo gradativamente e atingiu, no último ano avaliado, 20.926 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos no Estado. No ano passado, o percentual foi de 11%, considerando uma faixa etária um pouco mais estreita, dos 6 aos 17 anos.
A evasão é um problema estrutural que deve ser prioridade nas políticas públicas, com o novo desafio de diminuir o tempo perdido agora. Não só mantendo os alunos estudando, como resgatando os que estão desistindo durante a pandemia.
A educação é um dos grandes passivos do Brasil, e com a pandemia os prejuízos para a atual geração escolar se tornaram incalculáveis. É uma perda para a nação, para o desenvolvimento econômico e a produtividade. No nível federal, a passividade do Ministério da Educação continua inaceitável, em um momento que exige ação e urgência.
De forma imediata, conectar os estudantes e capacitar os professores para as novas perspectivas educacionais deveria estar na ordem do dia. Assim como a implementação de protocolos de segurança sanitária nas escolas que ultrapassem a mera disponibilização de álcool gel, com diretrizes que guiem Estados e municípios diante de uma nova realidade.
A discussão sobre a volta às aulas presenciais não pode ser politizada sob nenhuma hipótese: o cerne da questão é a busca por qualidade, no ensino presencial ou não, sem prejuízos para a aprendizagem e para o engajamento dos estudantes. É essa a prioridade dos gestores públicos.
Ir à escola é muito mais do que uma mera ocupação para crianças e adolescentes, é a construção diária de um compromisso com a própria vida, que será mais digna com conhecimento e acesso a oportunidades. O resgate da educação, neste ano de 2021, é uma das grandes missões da sociedade brasileira, encabeçada por seus governantes.
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