Em meio aos relatos de pessoas que tiveram casas e comércios alagados entre a madrugada de terça-feira (12) e a manhã desta quarta-feira (13) na Grande Vitória, há dois tipos de situação: a de quem enfrenta o mesmo drama a cada chuva mais forte e a daqueles que, pela primeira vez em suas vidas, viram suas ruas inundadas, seus imóveis invadidos pela água. A constatação é que o problema não só é frequente, como vem se agravando.
O aposentado Agostinho Feller, 83 anos, morador do bairro Vasco da Gama, em Cariacica, e o comerciante Eguimar Roque, 54 anos, que trabalha no bairro Alecrim, em Vila Velha, são as duas faces desse problema. O primeiro nunca tinha visto seu quintal ser invadido pela água até esta manhã, enquanto o segundo reclama da negligência com a região. “A prefeitura não faz a parte dela, e a população também não ajuda”, disse, referindo-se à falta de limpeza nos bueiros e ao lixo jogado nas ruas.
O desabafo de Eguimar acerta em cheio o alvo. É preciso esforço conjunto do poder público e da população não apenas para mitigar danos, mas para impedir que novas inundações ocorram e, com elas, interrupção dos transportes, engarrafamentos, suspensão de serviços, prejuízos financeiros e materiais, desabamentos, desalojamentos e, em ocasiões mais extremas, até mortes.
Governos de ontem e de hoje apresentam falhas, mas a população ainda minimiza sua responsabilidade. Em alguns casos, houve um paradoxal retrocesso trazido por obras vultosas. A inauguração da Rodovia Leste-Oeste foi crucial para a logística do Estado, mas canalizou as águas das chuvas e ampliou uma área de alagamento já histórica em Vila Velha. Obras de macrodrenagem faziam parte do projeto da rodovia, mas ficaram para 2020. De quebra, no mesmo município, o Plano de Redução de Risco, para indicar áreas vulneráveis e apontar soluções, deveria estar pronto desde 2012, mas até maio deste ano, quando houve outro grande alagamento, ele não existia.
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Diante dos alagamentos, constantes ou inéditos, não há espaço apenas para afirmações de que “choveu mais do que o previsto” quando faltam obras estruturais, como estações de bombeamento, comportas e elevatórias, ou quando houve permissão para a ocupação desornada do solo. Também não dá para reclamar apenas do descaso de governos quando até sofás são descartados em canais. Uma gestão das águas eficiente é compartilhada entre as diferentes esferas do poder público e a população. Enquanto não houver essa sinergia, décadas de descuido e falta de planejamento acumuladas vão continuar a desaguar em caos.
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