Não é só a polícia que protege os moradores nos bairros com presença do tráfico

Além do reforço do policiamento na região de São Benedito, em Vitória, anunciado pelo governador,  a presença do Estado por meio de serviços e equipamentos públicos também fortalece a rede de proteção social

Publicado em 21/05/2021 às 02h00
Casagrande
O governador Renato Casagrande visita São Benedito, em Vitória, e anuncia ações de reforço no policiamento da região. Crédito: Any Cometti | G1 ES

No maciço central da Ilha de Vitória, torneando as formações rochosas mais marcantes da geografia da cidade como o Morro da Fonte Grande, a Pedra dos Dois Olhos e o Morro de São Benedito, estão 12 bairros nos quais têm relevo alguns dos maiores desafios sociais e urbanos do Estado.

Epicentro da guerra do tráfico na Grande Vitória, com facções que disputam autoridade ao mesmo tempo que tentam subverter as lógicas sociais ao se colocarem como uma alternativa ao poder estabelecido,  a região composta por bairros como São Benedito, Bairro da Penha, Itararé, Jaburu, Bomfim e tantos outros testemunham também o florescimento de iniciativas comunitárias, no campo das artes, do esporte e do empreendedorismo, em prol da coletividade. Lideradas por pessoas com o mais elevado grau de cidadania, mesmo que o poder público muitas vezes lhes dê as costas.

Essas nuances sociais fornecem os diferentes tons de um problema que se destaca como de segurança pública, mas que têm raízes na falta de oportunidades. Uma educação deficiente, que não estimula a transformação, concorrendo com caminhos mais sedutores, pelas vias da criminalidade. É por isso que, quando o governador Renato Casagrande se faz presente na região, como esteve na última quarta-feira (19) no bairro de São Benedito para anunciar o reforço do policiamento, essa presença é também simbólica. O Estado, para além do enfrentamento da violência, deve se colocar de forma consistente no dia a dia desses moradores, para que o desamparo não deixe a população à mercê dos desmandos de criminosos.

O governo estadual anunciou a criação de unidades do Centro Regional das Juventudes (CRJ), em parceria com os municípios e apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na região do Território do Bem, como ficou conhecida a região desses bairros fisicamente centrais da Capital, mas periféricos no alcance de serviços prestados pelo poder público, será instalado um dos 14 CRJs que o governo implantará em todo o Espírito Santo. Casagrande garantiu que as instalações devem ser feitas até o final deste ano e ainda estão em fase de licitação. É um eixo que deve ser encarado como prioridade por oferecer atividades importantes para criar vínculos dos jovens com a comunidade, fortalecendo a noção de cidadania.

Existem projetos sociais duradouros no Território do Bem, como o Banco do Bem, que desde 2005 fornece crédito aos moradores e tem inclusive uma moeda própria, para estimular o empreendedorismo local. Há ONGs, entidades e igrejas com iniciativas que se aproximam de quem vive nos bairros, como redes de apoio. Uma movimentação cidadã que mostra que com incentivo estatal e o apoio da sociedade, sobretudo na criação de oportunidades de emprego e renda, é possível fortalecer as relações comunitárias e criar uma blindagem contra a criminalidade.

O que não dispensa a presença policial. No anúncio feito pelo governador, houve a promessa de investimento de R$ 160 mil por mês, sem prazo, para garantir o reforço no efetivo da Polícia Militar, com a implantação de escala extra, para aumentar o combate às ações criminosas e a proteção aos moradores. A unidade será composta por efetivos da Companhia Independente de Missões Especiais (CIMEsp), Companhia Independente de Operações com Cães (CIOC) e Forças Táticas (FT) das Unidades Operacionais do Comando de Polícia Ostensiva Metropolitano (CPOM) da PMES. 

Não podem faltar, contudo, ações importantes de urbanização, o que requer apoio da administração municipal. Áreas urbanas degradadas, sem saneamento, pavimentação, iluminação e áreas de lazer, também são escapes para a vulnerabilidade social que pode desaguar no ingresso na vida do crime. Sem equipamentos públicos fortalecidos, que garantam acesso à saúde e à educação, não se constrói um laço de pertencimento entre a comunidade e o aparato estatal.

A presença da polícia e do governador é uma demonstração importante da boa vontade de transformar a região. O Programa Estado Presente em Defesa da Vida, do governo estadual,  é um pacto social que oferece um bom caminho para reduzir os índices de violência e criminalidade, pensando na prevenção. A cultura da paz não é uma utopia, mas exige trabalho e comprometimento de todos. 

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