Vamos falar de Mimoso do Sul, uma das cidades do Sul do Espírito Santo assoladas pelo temporal entre a noite do dia 22 e a madrugada do dia 23 de março, não só por ter sido o município mais afetado da região, com 18 mortes, mas sobretudo porque o alerta de que uma tragédia dessas proporções poderia ocorrer já havia sido feito há dez anos.
Medidas preventivas destacadas pelo Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), da Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), elaborado em 2013 e 2014, poderiam ter mitigado os estragos por um entendimento que, embora cada vez mais difundido, ainda não foi internalizado por aqueles que têm o poder das grandes decisões: é preciso se antecipar aos eventos climáticos extremos.
Em relação às inundações, o plano estadual para Mimoso do Sul apontou áreas com previsão de serem inundadas em um período de até 100 anos. Se não houver uma mudança capaz de reorganizar as cidades e recuperar rios e vegetação nativa, os desastres naturais serão rotina.
Entre as ações sugeridas, estavam a dragagem e a derrocagem do Rio Muqui do Sul, a dragagem e a construção de barragem no Córrego Belo Monte e as dragagens nos córregos da Serra e de Santa Marta. Nada foi feito.
Mimoso do Sul, com seus 24.475 habitantes, é apenas um microcosmo desse descaso que é nacional.
O que está sendo testemunhado no Rio Grande do Sul, neste momento, começa a dar a dimensão de um novo normal, para usar o bordão desgastado pela pandemia, mas que cabe bem às tragédias climáticas. É inacreditável que um estado de grande extensão territorial esteja praticamente isolado pelas inundações sem proporções. A capital, Porto Alegre, praticamente submersa.
O Rio Grande do Sul e Mimoso do Sul mostram que investimentos em prevenção, com reordenamento urbano e recuperação ambiental, são mandatórios. É como se não houvesse mais um lugar seguro. E na verdade não há. Por isso é preciso pensar no amanhã, mas agir agora.
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