O tempo precisa ser soberano e ditar o compasso das reações administrativas da Ufes diante de uma situação grave como a do sistema de esgoto do campus de Goiabeiras, registrada em reportagem deste jornal. O risco de contaminação do lençol freático e, consequentemente, dos manguezais que cercam a área foi documentado por técnicos da própria universidade no ano passado, que apontaram falhas no sistema de fossa-filtro utilizado no Restaurante Universitário (RU), que lança efluentes na lagoa após passarem por tratamento.
No fim das contas, a base do problema está no fato de a cidade universitária não estar conectada à rede de esgoto municipal, cuja gestão é feita pela Cesan. O sistema do RU, que trata apenas os dejetos da cozinha, tem registrado problemas desde 2018, segundo os documentos apresentados na reportagem. Já os resíduos sanitários do campus são depositados em fossas biológicas, que passam por drenagem periódica.
O campus universitário tem, portanto, um sistema de esgotamento autônomo e, diante da expansão da cobertura da rede de esgoto em todo o Estado, arcaico. Os problemas que emergem no Restaurante Universitário são decorrentes dessa condição. Em 2019, já houve alerta sobre as deficiências no armazenamento e escoamento desses resíduos que são lançados na lagoa.
Com a pandemia, o restaurante foi fechado e a comida vinha sendo fornecida em esquema de marmitas terceirizadas, cujo contrato foi suspenso recentemente após estudantes encontrarem larvas nos pratos.
Com o retorno das atividades no restaurante previsto para esta segunda-feira (23), o temor é de que o funcionamento com a alta demanda do local propicie o transbordamento do esgoto. A administração da Ufes, contudo, informou que já providencia a instalação de tanques de armazenamento de efluentes do esgotamento da cozinha e a revisão de toda a tubulação que interliga as caixas de filtragem existentes.
São medidas emergenciais para evitar um crime ambiental, mas o que se mostra urgente é a superação desse sistema quase medieval. Lamentavelmente, ainda não são raros os prédios públicos, das esferas municipal, estadual e federal, sem conexão à rede de esgoto no Espírito Santo. Em maio do ano passado, eram 242 imóveis nessa situação.
A Ufes afirma que está buscando a liberação de cerca de R$ 8 milhões para a execução da obra que vai ligar seu esgoto à rede coletora. Impressiona, contudo, que em 2013 a Cesan tenha doado um projeto à universidade, no valor de R$ 43.560, para a implantação da coleta de esgoto que não saiu do papel. Certamente, mais investimento teria de ser empenhado, mas evitaria as dores de cabeça atuais. Agora é correr contra o tempo.
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