No anonimato da internet ou pessoalmente, injúria racial é crime

Caso de advogada que sofreu ofensas em seminário on-line é um modo tecnológico de demonstração do racismo, mas nas relações pessoais "presenciais" esse absurdo ainda persiste. Educação pode fazer a diferença

Publicado em 02/06/2022 às 02h00
Injúria
Um grupo racista interrompeu, no último sábado (28), um seminário on-line de música negra. Crédito: Reprodução Negritar

O que passa pela cabeça de pessoas supostamente adultas que invadem uma sala virtual durante um seminário sobre música negra para ofender a palestrante? É obviamente uma pergunta sem resposta, levando-se em consideração que nem mesmo o fato de injúrias raciais serem criminalizadas conseguir intimidar comportamentos tão desumanos, retrógrados e equivocados. E criminosos, não custa repetir.  Mais do que isso, é inacreditável que, em pleno século 21,  ainda exista quem acredite ser superior baseado na cor da pele.

A advogada criminalista Fayda Belo, que atua em casos de racismo, foi atacada com mensagens racistas e foi alvo de xingamentos enquanto tentava proferir a palestra. Está tudo registrado nas gravações. Os agressores usaram até sons de macaco para ofendê-la. "Falaram que nós, pretos, somos imundos. Após isso, houve ainda um ataque a mim, enquanto mulher, extremamente baixo e machista, que não posso nem redizer aqui", desabafou a advogada, que teve de encerrar sua participação diante das agressões gratuitas.

Um ataque dessas proporções não fere somente a pessoa que está diante do criminoso: é uma ofensa aos milhões de brasileiros pretos e pardos. É uma violência simbólica, reflexo do racismo estrutural que ainda relega aos negros um papel secundário na vida em sociedade. Xingamentos e ofensas são inaceitáveis por verbalizarem um desejo de dominação que não deve nem sequer existir. É questão de direitos humanos, é questão de cidadania.

Se é revoltante testemunhar adultos com comportamento tão reprovável diante de uma palestrante negra, é triste saber que nem a infância de crianças negras consegue ser preservada.  A pequena Maria Luiza, de apenas cinco anos, já coleciona um histórico de discriminação racial por seus cabelos crespos. A testemunha, nesse caso, foi sempre a mãe da menina, que desde cedo buscou mostrar à filha que não há problema algum com a textura dos seus fios. 

Já Natália Heloísa Santos, de 18 anos, não faz muito tempo foi vítima de ataques raciais "presenciais".  Em maio, na escola, ela foi abordada por um aluno que fez ofensas a ela. Não só perguntou se ela "estava no cio", como falou que a namorada dele, branca, era mais bonita que Natália. E também falou do seu cabelo crespo.

Tanto no caso de violência sofrido por Fayda quanto nas agressões a Maria Luiza e Natália, tanto entre adultos quanto entre jovens e crianças, portanto, é a falta de educação que contribui para a sobrevivência de uma mentalidade tão tacanha. Vale lembrar que nem mesmo a vice-governadora do Estado conseguiu escapar desse tipo de hostilidade. E quando se fala em educação, não se trata de polidez nem ensino formal, mas de construção de uma educação antirracista que não se limite aos muros escolares. 

Conhecer a história e a cultura negras é parte desse processo de aproximação. Uma criança sem preconceitos não será um adulto nocivo à sociedade, capaz de proferir tantas ofensas e barbaridades contra quem não tem a mesma cor de pele.

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