A polêmica em torno do gol do América-MG sobre o Santos pela Série B do Brasileirão expôs um dilema ético com algumas camadas. Muita gente, com razão, lamentou o que seria falta de fair play do atacante do time mineiro que, mesmo diante de um goleiro lesionado, não desperdiçou a chance de fazer um gol.
No Bom Dia ES desta segunda-feira (27), o comentarista e ex-goleiro Paulo Sergio foi uma dessas vozes: "Coisa feia, vamos respeitar o adversário, que se machucou. Não é vencer a qualquer custo, isso pra mim não vale".
Mas muitas pessoas levantaram um outro ponto, que não pode ser ignorado. Há tanto fingimento no futebol que, em algum momento, a verdade acaba perdendo de goleada. É como na fábula de Esopo, na qual o pastor de ovelhas inventa tantas vezes que está sendo atacado por um lobo que, quando realmente está diante do animal feroz, ninguém mais acredita. Vale para o futebol, vale para a vida.
O ex-jogador Denílson, comentando o caso, foi honesto, falou que faria o gol e culpou a "cultura do futebol". "A gente foi educado a simular e enganar o árbitro. Não é culpa de quem fez o gol", afirmou.
Vivemos um paradoxo de viver em uma sociedade cada vez mais cercada por câmeras que capturam tudo o tempo todo, mas, como o VAR que auxilia os juízes dentro de campo, não impedem fingimentos e simulações. Uma mentira acaba não precisando ser contada mil vezes para virar uma verdade que beneficie quem a espalha, basta algumas repetições bem encenadas, mesmo que os fatos estejam explícitos. E nessa toada as relações de confiança, essenciais para a vida em sociedade, vão se dissolvendo.
A cobrança por mais ética tem impacto em tudo: fazer o que deve ser feito ajuda a moldar o caráter de indivíduos que, unidos, podem mudar a trajetória da própria sociedade. O futebol influencia comportamentos e por isso isso deveria inspirar o que há de melhor. É o trabalho de base, com educação, que transforma. Quando o adversário está estirado no chão, a vitória perde o sabor do merecimento. Quando o esporte vira teatro, com simulações e farsas, ele perde o sentido. Vale também para a vida.
"Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar."
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