No cinema da vida real, o ES é um filme que abusa cada vez mais da violência

Cenas de agressões e mortes registradas pelas câmeras quase diariamente no Estado estão cada vez mais impressionantes, como as do assassinato de um motociclista em Guarapari

Publicado em 14/04/2022 às 02h00
Homicídio
Motociclista é alvo de disparos e morre em Guarapari. Crédito: Câmera de videomonitoramento

Homicídios, agressões, assaltos... as câmeras que cotidianamente flagram a violência no Espírito Santo captam imagens da vida real que formam um filme que ninguém aguenta mais ver, e mesmo assim não sai de cartaz. Nesta terça-feira (12), dois vídeos causaram comoção e indignação, na mesma medida.

Em um deles, uma atendente de uma sorveteria de Santo Antônio, em Vitória, chora copiosamente após o estabelecimento ser assaltado por dois homens. Lágrimas de desespero, revolta e abandono. Soube-se depois que o roteiro era ainda mais surpreendente: horas antes, ela havia perdido um primo, assassinado no mesmo bairro.

Em Guarapari, ainda à luz do dia, um motociclista foi brutalmente assassinado por um homem que dirigia um veículo sedã. As imagens mostram o motorista praticamente descarregando sua arma para resolver o que, segundo testemunhas, teria sido uma discussão iniciada no trânsito. 

O caso está sendo investigado, mas a informação repassada por quem estava no local, em frente a um bar entre os bairros Itapebussu e Muquiçaba, é que o motorista do carro teria ficado incomodado após o motociclista atingir o retrovisor dele. Um motivo vil que provocou uma reação totalmente despropositada. São tantos tiros que quem está assistindo à cena não consegue acreditar que não seja uma produção cinematográfica. Mas é a dura realidade da violência, banalizada dia após dia.

Vivemos em uma sociedade cada vez mais armada: literal e metaforicamente. As reações são intempestivas, até nas relações mais triviais há uma impaciência generalizada.  Enquanto a legislação flexibiliza o acesso às armas, mais pessoas parecem recorrer a elas para solucionar problemas que deveriam ser resolvidos com a mediação da Justiça. Ou com uma simples conversa.

Não se sabe ainda se a arma usada pelo homem que desferiu os tiros estava em situação legal, se ele tinha o porte regularizado. Mas não parece sensato que alguém nitidamente sem controle para usá-la tenha permissão para andar armado. 

As armas são o símbolo da cultura da violência, são atalhos que "resolvem" os problemas com consequências irreversíveis. Na cena da sorveteria, bastou que um dos bandidos mostrasse que estava armado para  consolidar a relação de poder com sua vítima. A conexão estabelecida pelo medo. Na cena do motociclista, a arma foi disparada e encerrou a vida de um jovem com sangue derramado no asfalto. São feridas sociais que não se fecharão sem punições mais severas para quem trata a vida alheia com tanta banalidade.

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