Homicídios, agressões, assaltos... as câmeras que cotidianamente flagram a violência no Espírito Santo captam imagens da vida real que formam um filme que ninguém aguenta mais ver, e mesmo assim não sai de cartaz. Nesta terça-feira (12), dois vídeos causaram comoção e indignação, na mesma medida.
Em um deles, uma atendente de uma sorveteria de Santo Antônio, em Vitória, chora copiosamente após o estabelecimento ser assaltado por dois homens. Lágrimas de desespero, revolta e abandono. Soube-se depois que o roteiro era ainda mais surpreendente: horas antes, ela havia perdido um primo, assassinado no mesmo bairro.
Em Guarapari, ainda à luz do dia, um motociclista foi brutalmente assassinado por um homem que dirigia um veículo sedã. As imagens mostram o motorista praticamente descarregando sua arma para resolver o que, segundo testemunhas, teria sido uma discussão iniciada no trânsito.
O caso está sendo investigado, mas a informação repassada por quem estava no local, em frente a um bar entre os bairros Itapebussu e Muquiçaba, é que o motorista do carro teria ficado incomodado após o motociclista atingir o retrovisor dele. Um motivo vil que provocou uma reação totalmente despropositada. São tantos tiros que quem está assistindo à cena não consegue acreditar que não seja uma produção cinematográfica. Mas é a dura realidade da violência, banalizada dia após dia.
Vivemos em uma sociedade cada vez mais armada: literal e metaforicamente. As reações são intempestivas, até nas relações mais triviais há uma impaciência generalizada. Enquanto a legislação flexibiliza o acesso às armas, mais pessoas parecem recorrer a elas para solucionar problemas que deveriam ser resolvidos com a mediação da Justiça. Ou com uma simples conversa.
Não se sabe ainda se a arma usada pelo homem que desferiu os tiros estava em situação legal, se ele tinha o porte regularizado. Mas não parece sensato que alguém nitidamente sem controle para usá-la tenha permissão para andar armado.
As armas são o símbolo da cultura da violência, são atalhos que "resolvem" os problemas com consequências irreversíveis. Na cena da sorveteria, bastou que um dos bandidos mostrasse que estava armado para consolidar a relação de poder com sua vítima. A conexão estabelecida pelo medo. Na cena do motociclista, a arma foi disparada e encerrou a vida de um jovem com sangue derramado no asfalto. São feridas sociais que não se fecharão sem punições mais severas para quem trata a vida alheia com tanta banalidade.
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