O Brasil atingiu nesta semana a marca de 80% da população adulta com o esquema primário da vacina contra Covid completo: as duas doses ou a única. O governador Renato Casagrande, na terça-feira (23), anunciou que o Espírito Santo também atingiu o mesmo percentual. O sucesso do programa de imunização deve ser celebrado após tantos percalços, mas já se encontra diante de um novo desafio, com aplicação da dose de reforço para a população adulta pegando a devida tração. O pacto dos brasileiros com a vacinação, mesmo com a ampla cobertura vacinal no país, ainda precisa perdurar.
Pois os ventos que sopram da Europa mostram o quanto o descaso com a imunização tem provocado retrocessos. Países como Áustria, Alemanha, Holanda e França atravessam nova onda de casos, internações e mortes que tem forçado os governos a impor novamente restrições. A OMS teme que 700 mil cidadãos europeus morram até março de 2022. O apelo de Jens Spahn, ministro da Saúde alemão, teve uma carga dramática importante. Segundo ele, até o fim do inverno europeu, todos na Alemanha estarão "vacinados, recuperados ou mortos". No país, 67% da população está com o esquema vacinal completo. Na União Europeia, a lentidão da aplicação da terceira dose em idosos e adultos também é uma das causas do novo avanço da doença.
Nem mesmo os números alarmantes têm sido capazes de frear o movimento antivacina no continente, sequestrado de forma oportunista por grupos de extrema direita com a bandeira das liberdades individuais. Uma visão individualista distorcida, capaz de atrapalhar a vida em sociedade. Na Áustria, que acaba de tornar a vacina obrigatória, e na Holanda, os protestos cada vez mais frequentes expõem uma contradição: manifestantes se opõem à imunização e ao mesmo tempo não querem novas restrições. Sendo que não há dúvidas de que a vacinação é o caminho mais curto para garantir as atividades econômicas e sociais.
É uma escolha simples: quem opta por não vacinar deve estar preparado para ter trânsito impedido a determinados locais com mais concentração de pessoas. Um projeto de lei do vereador Gilvan da Federal, da Câmara de Vitória, ignora o risco de saúde pública em meio a todos os alertas que vêm da Europa, ao propor a proibição do "passaporte da vacina" na Capital. Na pandemia, o direito fundamental à saúde precisa ser soberano. O ônus da tal "liberdade de não se vacinar" deve recair em quem não quer receber as doses, já que outras formas de compulsoriedade não são aplicadas.
No Executivo estadual, todos os servidores vão ter de comprovar o esquema completo da vacina para acessar os locais de trabalho a partir de 1º de dezembro. A medida já passou a ser adotada pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), pelo Ministério Público de Contas (MPC), pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Os sinais da repetição da tragédia na Europa deveriam ser, por si só, razões mais do que concretas para a vacinação voluntária. Não há saída para essa crise sanitária sem imunização, que tende a ser sistêmica nos próximos anos e deverá contar com a adesão popular para proteger vidas. E mesmo que os resultados da vacinação no Brasil sejam positivos, até mesmo quando comparados com países europeus, é importante lembrar que uma pessoa imunizada ainda precisa adotar os cuidados de sempre. A diretora-geral assistente da OMS, Mariângela Simão, fez esse reforço em entrevista ao Valor Econômico. "Só a vacina não basta." Mas se vacinar é e continuará sendo imprescindível por um bom tempo.
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