De janeiro a novembro deste ano, o Espírito Santo registrou 29 feminicídios. Mas, apenas nos primeiros cinco dias de dezembro, outras três mulheres – Genaína dos Santos, Cristina Rosário e Huanna Fardim – entraram para a dura estatística. Os crimes seguiram um roteiro incomodamente semelhante: as vítimas foram mortas a facadas após mais uma briga, dentro de suas próprias casas, pelas mãos de maridos e ex-companheiros. Em dois dos casos, se já não bastasse a dor da perda, os filhos ainda presenciaram o assassinato das mães.
Os recentes casos acendem um alerta. Embora o Espírito Santo tenha aparecido como destaque no último Atlas da Violência por remar contra a média nacional e apresentar redução consistente da violência letal contra as mulheres, não há o que comemorar, pois permanece como um dos Estados onde mais se mata mulheres. A mãe de Genaína Gomes dos Santos, uma das vítimas recentes, acaba de perder sua segunda filha “por causa de homem”. Há 15 anos, ela viveu a mesma dor ao perder Sara, morta aos 16 anos, agredida a pauladas pelo companheiro.
Enquanto o feminicídio grita por sua brutalidade, milhares de mulheres sofrem agressões, ameaças e terror psicológico em silêncio. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp), em 2019 já foram contabilizados mais de 14 mil boletins de ocorrência e mais de 7,3 mil medidas protetivas de urgência.
Os números assustam, mas a realidade é ainda mais cruel do que as estatísticas mostram. O machismo que mata e fere mulheres também faz com que as vítimas não denunciem as agressões, e os casos sejam subnotificados – seja por medo de represálias, seja por dependerem financeiramente dos companheiros, seja por carregarem um sentimento de culpa ou vergonha.
Se o ato de violência contra as mulheres é cometido única e exclusivamente pelo autor do crime, e sobre ele deve recair o rigor das leis, cada vez mais sensíveis ao flagelo enfrentado pela população feminina, a cultura misógina que alimenta a agressão tem culpa compartilhada. É responsabilidade de cada pai e mãe, de cada professor, de cada político, de cada indivíduo combater a opressão contra as mulheres na sociedade. É tarefa de cada cidadão professar a igualdade de gênero e combater preconceitos que, de tão arraigados, soam como naturais.
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O que nasce como um julgamento mais duro contra mulheres que ousam quebrar estereótipos de comportamento, de vestimenta, profissionais e pessoais, com uma rigidez que não é aplicada aos homens, culmina em menos chances de estudar e subir na carreira, em salários mais baixos para o mesmo posto, na culpabilização das vítimas de estupro, na objetificação dos corpos, no sentimento de posse dos parceiros, em morte. Não se muda uma cultura da noite para o dia, por isso não se pode esperar nem um minuto a mais para começar.
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