Este editorial é um pouco diferente. Não menos indignado e consternado, mas dando voz a uma jovem, grávida de 12 semanas, que acabou de perder o marido em um acidente. Mesmo após a perda brutal e dilacerante, Victoria Britz, de 22 anos, conseguiu colocar em palavras o absurdo da violência no trânsito e fazer um apelo:
Victoria Britz e Guilherme Gadioli, de 26 anos, tinham uma programação importante nesta segunda-feira (6): a realização de um ultrassom para descobrir o sexo do bebê. Uma importante etapa da vida do casal que simboliza todos os planos feitos em parceria, todas as expectativas para o futuro. Mas esses sonhos foram dilacerados pela morte precoce de Guilherme.
Como a dele, um número inconcebível de vidas se perde nas ultrapassagens, nos corredores, nas imprudências a cada ano. Tantas outras histórias com final antecipado, tantos outros familiares a sentirem a dor da perda. Dor que ameniza com o tempo, mas não passa. Famílias brutalmente amputadas.
Só em janeiro deste ano, 33 pessoas perderam a vida em acidentes envolvendo motos no Espírito Santo. Em 2022, foram 407 perdas em duas rodas. No ecossistema do trânsito, os motociclistas são elos mais frágeis, desprotegidos. Por isso mesmo, os motoristas precisam se esforçar para protegê-los, e os próprios condutores das motos devem ter um instinto de autopreservação para encarar a selvageria das ruas, avenidas e rodovias. Um trânsito mais humano deveria conciliar posturas mais cautelosas de todos.
As circunstâncias do acidente de Guilherme indicam que ele estava em um corredor, nome que se dá à manobra na qual o motociclista se coloca em movimento entre as faixas dos carros. Não se trata de uma infração, mas é uma decisão no trânsito que exige atenção.
Há cada vez mais motos no trânsito, por ser uma opção mais barata de mobilidade e também uma forma de sustento. O número de motos vendidas no país cresceu 28,1% neste ano, na comparação com as vendas de janeiro e fevereiro de 2022. São cada vez mais veículos nas ruas, e se não houver uma convivência pacífica, com respeito às regras e prudência, desabafos como os de Victória continuarão sendo comuns. Toda pessoa que conduz uma máquina, de qualquer porte, nas vias precisa dar atenção ao apelo dela, para não causar ou ser vítima de tamanho sofrimento.
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