A BR 262 como um um emblema da insegurança viária, com seu traçado sinuoso e ultrapassado, segue seu caminho solenemente. Se em novembro do ano passado este jornal denunciou, com imagens assustadoras feitas por drones, que a rodovia se mostrava por um fio após os temporais que marcaram aquele período, pouco mais de oito meses depois a situação não é diferente.
A força das águas voltou a causar estragos à via, com deslizamentos de barreiras no último fim de semana. Mas o que fica cada vez mais evidente é que o algoz da BR 262 não é a chuva (essa, sim, uma manifestação da natureza inevitável e incontornável), mas a inoperância no seu gerenciamento.
A reportagem do telejornal ES-2, da TV Gazeta, no último sábado (1º) trouxe cenas que deveriam causar quase tanto estupor quanto aquelas de 2019 que mostravam o risco iminente de colapso das pistas da rodovia.
Nelas, os funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsáveis pela liberação do trecho, apareciam pendurados na encosta retirando as pedras manualmente, rolando-as morro abaixo. Um trabalho de Sísifo às avessas, mais ainda assim irrelevante diante de um equipamento viário tão imprescindível para a logística regional. Não há maquinário avançado para reparos emergenciais como o do fim de semana, e o resultado desse amadorismo acabou sendo um engarrafamento interminável.
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É inaceitável que não exista um plano de contenção de encostas, que reduza o risco de deslizamentos. Como lamentou um motorista entrevistado pela TV Gazeta, as ações nunca são preventivas, mas reativas. Não há planos de contingência, capazes de antever e mitigar os possíveis danos estruturais. Um retrato de Brasil que não abandona a gestão pública.
Enquanto isso, as intervenções de recuperação de trechos afetados pelas fortes chuvas na virada de 2019 para 2020, nos municípios de Marechal Floriano, Domingos Martins e Viana, devem ser concluídas no dia 11 de agosto, uma garantia do Dnit. São obras indispensáveis para uma rodovia moribunda, abandonada há décadas por diferentes governos, mas um tratamento que apenas garante a sobrevida, sem a recuperação total.
A BR 262 exige muito mais para se modernizar e garantir a segurança de quem trafega por ela. Este jornal não se cansa de afirmar que a rodovia carece de uma remodelação ousada, além da própria duplicação. Precisa deixar de ser a rodovia dos "puxadinhos" e partir para obras mais significativas.
A concessão da rodovia à iniciativa privada não pode virar um conto de fadas, precisa estar mais próxima da realidade. Uma rodovia tão importante para o escoamento da produção quanto para o turismo tem de se mostrar atraente ao mercado. O fiasco de 2013 precisa ser urgentemente superado, o que pode acontecer em breve, com a divulgação de que o plano de outorga da rodovia foi encaminhado para o Ministério da Infraestrutura.
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Quando a BR 262 foi inaugurada, no final dos anos 60, ela foi celebrada por encurtar as distâncias entre Espírito Santo e Minas, aproximando também o Centro-Oeste do país. Foi a superação de um transporte arcaico e difícil. Com a interdição do fim de semana, a própria Polícia Rodoviária Federal sugeriu um desvio com aumento considerável do percurso, um retrocesso de meio século. O futuro precisa definitivamente acontecer para a BR 262.
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