Não foi somente pela avaliação positiva das missões internacionais de observação das eleições brasileiras deste ano que se deu a consagração da urna eletrônica. Nem mesmo somente pela auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) que não apontou nenhuma irregularidade ou fragilidade na ferramenta. A urna eletrônica foi a grande vencedora das eleições sobretudo pelos resultados que dela emergiram no último domingo (2).
A própria divergência dos resultados com as pesquisas eleitorais contribui para retirar qualquer vestígio de dúvida sobre a segurança do processo eleitoral brasileiro. Comprovando que não há jogo de cartas marcadas, a soberania é do eleitor: é a decisão dele que pode provocar reviravoltas e resultados inesperados. A urna é o instrumento da vontade dos que confiam na democracia.
A urna eletrônica tem sido, durante décadas, um orgulho nacional. Quando, em 1996, o voto digital começou a ser instituído em 57 municípios, o Brasil se posicionou na vanguarda eleitoral do planeta, com um processo seguro, transparente e rápido. Quem viveu os anos imberbes da democracia tem na memória a confusão das apurações do voto de papel: muita gente, muita demora, muita fraude.
E a verdade é que o país continua na vanguarda, como se pode constatar pela fala de Lorenzo Córdova, chefe da missão da União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore) ao jornal O Globo no dia seguinte ao pleito brasileiro: "Digo como mexicano, com um pouco de inveja, que estamos começando o processo de criação da urna eletrônica. O último modelo é provavelmente mais bonito [que o brasileiro], mas nem de longe mais seguro".
Mas nos últimos anos, a urna eletrônica passou a viver um inferno astral por conta de acusações infundadas, sem provas, proferidas inclusive pelo atual presidente da República, que ironicamente chegou ao Planalto pelo voto eletrônico. Não só isso, construiu a própria trajetória como parlamentar em disputas que tinham a urna eletrônica como protagonista.
Não é só a credibilidade da urna eletrônica que deve ser sacramentada, mas todo o processo eleitoral. O Brasil é um país continental que consegue levar a estrutura eleitoral aos lugares mais distantes, e isso não é de agora. Isso também é democracia: simplificar, dentro do possível, o ato de votar para quem está mais distante dos grandes centros urbanos. O Brasil pode se orgulhar da logística eleitoral que construiu.
Exaltar a urna eletrônica não significa fechar os olhos para a constante necessidade de aprimorar a segurança e se proteger de novas vulnerabilidades tecnológicas. O processo eletrônico passa por auditorias e fiscalizações antes, durante e após as eleições, e assim deve continuar sendo. A urna eletrônica é vitoriosa há 26 anos justamente por conta disso.
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