Acidentes no trânsito têm um impacto emocional quando apagam vidas de uma hora para outra, em muitos casos após uma decisão errada de quem está na condução dos veículos, ou quando deixam marcas nos que sobrevivem. E, para ser vítima dessa violência incessante, não é nem preciso estar inserido no trânsito, dentro de um carro ou atravessando uma rua. Basta estar por perto, passando por ali. O que torna ainda mais dramática a perda de pessoas que foram vítimas das circunstâncias causadas pela imprudência de terceiros.
Dois episódios brutais que causaram comoção no último final de semana tiveram um aspecto em comum: os acidentes foram provocados por veículos que invadiram o espaço de pedestres. Em Iconha, mãe e filho foram atropelados em um ponto de ônibus na BR 101 no domingo (12) e não resistiram. Em Vitória, no dia anterior, cinco pessoas que se divertiam ou trabalhavam em uma praça de Jardim Camburi ocupada por food trucks foram atingidas por um veículo conduzido por uma motorista sem CNH. Quatro vítimas sofreram queimaduras com o óleo que derramou de uma fritadeira.
Nos dois casos, os relatos de testemunhas apontam que os motoristas teriam perdido o controle de seus veículos. Em diferentes níveis, tudo leva a crer que os acidentes foram provocados pela irresponsabilidade dos condutores. Sobre o episódio de Iconha, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o motorista, que ficou ferido e precisou ser internado, estava sob efeito de álcool, após passar pelo teste de etilômetro.
Já no acidente em Vitória, a mulher que conduzia o veículo nem sequer possuía carteira de habilitação. A investigada foi encaminhada ao Centro de Triagem de Viana após o acidente, mas, em audiência de custódia, foi autorizada a responder ao processo em liberdade, sem necessidade de pagar fiança.
Não é o caso de comparar as infrações, mas enquanto a direção sob efeito de álcool vem sendo cada vez mais atacada, com mudanças importantes na legislação de trânsito para impedir a impunidade, o caso de pessoas que assumem o volante sem a devida permissão para tanto também deveria trazer mais implicações. São decisões que podem mudar o destino das pessoas.
As estatísticas apontam que 90% dos acidentes são evitáveis, e em muitos desses casos são por escolhas simples dos motoristas. Não beber talvez seja uma das mais importante decisões tomadas por um motorista. Mas não dirigir se não tiver uma licença para encarar o volante também encabeça a lista do que não deve ser feito.
De acordo com dados do Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo, até outubro deste ano o número de vítimas fatais no trânsito cresceu 11,1%, na comparação com 2020. Esse resultado deve levar em conta os períodos mais prolongados de restrições em função da pandemia em 2020, com redução considerável da frota nas vias, o que não diminui o fato de que continua morrendo gente demais no trânsito. É uma guerra na qual cada acidente registrado é mais uma derrota, e a dificuldade de se atingir a segurança viária segue sendo um dos maiores desafios.
Um trânsito melhor é possível, não é utopia. Governantes e legisladores têm um protagonismo na pavimentação desse caminho. Devem ser constantemente inquiridos sobre políticas públicas para a construção de um trânsito mais seguro e humano. Mas, sem o compromisso individual, pessoas continuarão morrendo e se ferindo diariamente. A imprudência mata, e não é preciso muito esforço para tomar a decisão mais sensata quando for dirigir. Ou não dirigir, no caso das pessoas não capacitadas.
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