Em um mês, a variante Ômicron se tornou predominante no Espírito Santo, como uma avalanche: passou dos 3% no início de dezembro para os atuais 97% na primeira semana de janeiro. Predominância que veio acompanhada de um aumento expressivo no número de casos e da expectativa de uma nova pressão sobre o sistema de saúde.
Não se trata de um comportamento inesperado da pandemia, pelo contrário. Autoridades sanitárias já esperavam esse cenário como resultado da confluência da circulação de uma cepa mais contagiosa, embora até o momento encarada como menos mortal, com os encontros do fim de ano.
A esta altura, não se pode desconsiderar o cansaço extremo provocado por esses quase dois anos de idas e vindas na pandemia. Tudo entra na conta: as mais de 600 mil vidas perdidas no país, a crise econômica que se impõe sobre setores e indivíduos, agravando as desigualdades sociais, a ausência de uma liderança nacional.
Mas também as faltas mais subjetivas, já que a Covid-19 mudou radicalmente as relações pessoais. É possível apostar que nem mesmo o mais negacionista dos humanos está 100% confortável com o mundo hoje. Todos querem a volta da velha normalidade, mas esse novo refluxo provocado pela Ômicron mostra que, como sociedade, ainda precisamos aceitar que por algum tempo teremos que adotar posturas mais zelosas.
As vacinas são um bom exemplo disso. Ao que tudo indica, a Ômicron tem nelas uma barreira, reduzindo a gravidade das infecções, sobretudo quando há a aplicação da terceira dose. E nesse ponto os questionamentos tomam conta. Até quando a aplicação de novas doses das vacinas serão exigidas? É uma resposta que a ciência ainda não possui, sendo que o quadro mais provável é o de que a imunização se torne parte de um calendário, como é praxe por exemplo no combate à gripe.
É preciso, neste momento, aceitar que não há nada pacificado. E, enquanto houver a necessidade de novas doses, o compromisso de cada um será recebê-las. O crescimento da Ômicron sem o aumento agudo de internações e óbitos é a prova de que o caminho é acertado. As vacinas estão salvando vidas ao amenizar a doença.
Definitivamente, o atual status da pandemia não nos leva a um retorno a 2020, não só pela existência da vacina, mas também por haver mais conhecimento sobre a doença. É o que permite que as atividades econômicas e sociais ainda estejam liberadas. Mas ao mesmo tempo essa maior abertura continua exigindo contrapartidas individuais: atualmente há a disponibilidade de máscaras mais seguras, as PFF2 e as cirúrgicas de três camadas, que devem ser adotadas sobretudo em ambientes fechados. Faltam, contudo, programas de distribuição e de barateamento para a população mais pobre. É preciso democratizar essa segurança.
Assim como a disponibilização de testes em massa. O governo estadual tem promovido agendamentos e pontos de livre demanda, assim como os municípios. O cidadão precisa colocar a testagem como uma rotina não somente quando apresenta sintomas, mas quando tem contato com pessoas contaminadas. É o tipo de postura que contribui para frear a disseminação do vírus, quando se adota o devido isolamento de quem recebeu um resultado positivo. Além, é claro, dos sintomas gripais por si só. A epidemia de gripe também está contribuindo para um aumento da procura por atendimento, e os protocolos de prevenção não se diferem dos da Covid-19.
A Ômicron pode ser menos grave, mas tem provocado um impacto na atividade econômica às avessas de 2020. Como tem se propagado mais facilmente, tem obrigado o afastamento em massa de funcionários de muitas empresas e do comércio. É preciso estar atento para um possível colapso por falta de oferta de trabalho, algo que já vem sendo registrado em companhias aéreas no país, com o cancelamento de voos. No Aeroporto de Vitória, três decolagens foram canceladas entre a noite de domingo (9) e a manhã de segunda-feira (10). Nos Estados Unidos, restaurantes pararam de funcionar por falta de empregados saudáveis.
Neste janeiro de 2022, é possível respirar fundo e tomar decisões acertadas de prevenção, sem desespero ou atropelos. A pandemia continua exigindo cuidados e, sobretudo, o bom senso de cada um. Aglomerações voluntárias, como festas, continuam sendo um perigo que pode ser evitado, mas é preciso olhar para a população que depende, por exemplo, de transporte público. A disseminação da Ômicron exige atenção e comprometimento de gestores e da população, não é hora de displicência pelo fato de, teoricamente, ser uma variante menos perigosa.
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