Não adianta apelar para os velhos ditados e alertar que quando a esmola é grande, o santo desconfia. Ou pelo menos deveria desconfiar. Os golpes que oferecem propostas tentadoras de emprego pelo WhatsApp e por SMS conseguem fazer ainda mais vítimas quando encontram um mercado de trabalho desguarnecido que, desde a metade da década passada, não consegue absorver a população economicamente ativa do país.
Quase todo usuário de celular tem alguma experiência para contar sobre esses golpes mais recentes. A mensagem recebida sempre vem acompanhada por um link. Mesmo que a estratégia sedutora dos estelionatários, com ofertas de salários de até R$ 5 mil com carga horária de meio expediente e sem exigência de formação ou experiência, gere desconfiança naqueles mais antenados, há sempre os que caem. O resultado pode ser ter o celular infectado por vírus ou os dados pessoais roubados.
Para além dos prejuízos causados por um crime tão covarde, que aposta na boa-fé e na inocência das vítimas, vale fazer uma reflexão sobre a própria natureza desses golpes. Construir narrativas para tentar tirar proveito dos outros é algo que sempre existiu, são inúmeras as variações do conto do vigário. Normalmente, os golpes estimulam a ganância, com promessas de retornos financeiros consideráveis. É bem emblemático, portanto, que nas abordagens mais recentes o objeto de desejo seja um emprego bem remunerado. Sinal dos tempos.
Mas é compreensível o valor dado a uma oportunidade de trabalho e a uma boa renda diante das estatísticas. Os números mais recentes do desemprego no país, referentes a maio, mostram que são 11,3 milhões de brasileiros nessa situação, de acordo com o IBGE. Houve um recuo de 10,5% na taxa de desocupação no trimestre encerrado em abril deste ano, mas ainda um número elevado demais. Sem contar o encolhimento da renda, que caiu 7,9% em um ano. O empobrecimento da população não arrefece.
Ao se colocar um emprego atraente como a isca de um golpe, mexe-se com a esperança de muitas pessoas que desejam uma vida melhor. É preciso levar isto em consideração: o brasileiro quer trabalhar, garantir seu sustento com qualidade de vida, ter dignidade. Quer educação qualificada que o faça avançar no mercado de trabalho, quer o direito de sonhar.
A recorrência desse tipo de artimanha mostra que as pessoas precisam estar preparadas, com educação digital, para não serem vítimas. É preciso também esforço investigativo para desmanchar essas redes criminosas que se aproveitam da ingenuidade de tantas pessoas, com as devidas punições. E, acima de tudo, a maior de todas as reivindicações é a de um país com mais oportunidades de trabalho para os seus cidadãos.
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