É tão certo quanto o carnaval: os reajustes nas passagens de ônibus podem não ter data marcada, mas sempre dão as caras no início do ano. Já a qualidade do serviço prestado ainda permanece fora da agenda.
Que se faça justiça: 2019 será para sempre lembrado como o ano em que o Sistema Transcol ficou um pouco mais civilizado, com a implantação de ar-condicionado em parte da frota. Mas ainda parece distante o dia em que se locomover em coletivos pela Grande Vitória deixará de ser um suplício.
Ao ser reajustada em 4% na última sexta-feira (3), a tarifa passou de R$ 3,75 para R$ 3,90 no Sistema Transcol. As passagens dos ônibus municipais de Vitória também chegaram ao mesmo valor no domingo, sob a justificativa de viabilizar a manutenção do bilhete único e a integração com o Transcol.
Valores que vão consumir 18% da renda de quem recebe salário mínimo e depende do transporte público diariamente para trabalhar. Não espanta, portanto, que tenha havido considerável redução no número de passageiros.
Em 2018, foram 68.726.754 passageiros no Sistema Transcol. Já em 2017, foram 70.538.560 pagantes. Pessoas têm escolhido outras formas de transporte, como a bicicleta, quando as distâncias permitem. Até mesmo a disseminação dos aplicativos de transporte contribui para pulverizar esse uso.
As passagens são subsidiadas pelo governo estadual, e mesmo assim os valores doem no bolso dos usuários. Mas não é preciso girar a roleta para pagar: o contribuinte também banca essa conta. Justamente por isso, a contrapartida deve existir.
Transporte público deveria ser uma opção, não um fardo. Os problemas se acumulam: lotação nas horas de rush, horários que não são cumpridos, terminais sujos e com falhas estruturais, sem falar na violência.
A mobilidade urbana é, ironicamente, um desafio na Região Metropolitana pela imobilidade das ações. O Sistema Transcol foi implantado em 1989 e não é exagero dizer que foi transformador. Mas as cidades cresceram muito nesses 30 anos, e o sistema de transporte ainda não foi capaz de acompanhar os novos ritmos urbanos.
Passos estão sendo dados, a própria integração é um caminho inevitável para construir uma malha eficiente. Mas fazem falta os grandes projetos, que saiam do papel. A Leitão da Silva, que seria uma avenida para o BRT, descartado com a crise econômica, agora pode ser caminho para um trem urbano, ligando a Serra à Rodoviária de Vitória, segundo planos divulgados pelo governo estadual.
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A lista de projetos de mobilidade abandonados na Grande Vitória é tão extensa que fica difícil não desacreditar. Mas, no ponto em que se encontra o transporte público capixaba, é preciso começar a agir de forma mais arrojada.
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