O governo Bolsonaro neste um ano e meio de mandato embarcou em um jato supersônico que o levou rápido demais da nova política, uma aventura marqueteira que se mostrou como a sua completa negação, para o colo do Centrão, aquilo que representa o que há de mais velho e ultrapassado na vida pública brasileira. Faltou a escala permanente na política como ela deve ser, o instrumento democrático que permite a construção de consensos para as verdadeiras urgências do país. A remodelação do Estado brasileiro, a desburocratização e as privatizações encabeçam essas premências.
É o próprio Paulo Guedes que empresta o substantivo aqui: a "debandada" de nomes tão proeminentes da equipe econômica expõe a imobilidade de um governo incapaz de se articular na defesa de seus propósitos originais e de manter seu compromisso com a agenda liberal que o elegeu. Não há inocência na escolha da palavra pelo ministro, ela reforça uma insatisfação que é compartilhada por ele próprio.
Mas tampouco Paulo Guedes escapa das críticas: sua palavra e seus números perderam a credibilidade, e muito se deve ao fato de ainda não ter se encontrado na cadência do poder público. Assumiu uma das pastas que protagonizam o governo sem entender que o seu perfil técnico precisa estar aliado ao traquejo político que rege Brasília. Seu voluntarismo, associado à incapacidade do diálogo, impede também a concretização de suas propostas. No jogo político, para avançar também é preciso ceder.
A deserção dos secretários especiais de Desestatização (Salim Mattar) e Desburocratização (Paulo Uebel) coroou o descontentamento que já provocou reduções relevantes nos quadros da equipe econômica e deve fazer novas baixas. Paulo Guedes mandou seu recado: o presidente precisa se posicionar com veemência na defesa da responsabilidade fiscal. Mas não foi somente a política manca do governo que impediu as privatizações e a desburocratização de avançar.
As tensões se intensificaram com o envidraçamento do teto de gastos, ameaçado de ser estilhaçado com fogo amigo. Bolsonaro sempre esteve alheio à política econômica, delegando-a ao Posto Ipiranga. Ou, em outra frente, aproveitando-se de um jogo de espelhos bem colocado para não se comprometer com nada.
Nesta quarta-feira (12), realizou uma reunião de emergência com representantes do Executivo e do Legislativo para, como um robô, repetir a cartilha liberal e tentar reduzir os danos: "Nós respeitamos o teto dos gastos. Queremos a responsabilidade fiscal. E o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor reagirá à questão da crise". Bolsonaro não convence mais nem a ele mesmo.
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Desde quando percebeu que, abrindo os cofres públicos, a reeleição estará mais próxima, foi seduzido pela ambição, amplificada por ministros da ala política, militares e o próprio Centrão. Quer conquistar o coração dos eleitores pelo bolso, sem se importar com as reformas que não gozam de popularidade no funcionalismo público. O flerte com o populismo pode fazer desmoronar a credibilidade alcançada ao se comprometer com a construção de um Estado mais forte. As preocupações de Bolsonaro, lamentavelmente, sempre foram outras.
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