O desabafo de um empresário, obrigado a pagar taxas que podem chegar a R$ 3 mil por mês a traficantes, à coluna de Vilmara Fernandes coloca a Grande Vitória em um contexto que lembra o do Rio de Janeiro, onde, além do tráfico, também as milícias praticam essas extorsões para garantir que empresas atuem sem serem "incomodadas" nos bairros nos quais os criminosos ditam a regras.
Nada muito diferente da atuação da máfia ítalo-americana em Nova York em seus anos mais violentos. A dinâmica do crime, quando os espaços deixados pelo Estado assim permitem, acaba se repetindo. Os "pedágios" para o funcionamento do comércio e de empresas são uma fonte de receitas, mas também um indicativo de poder. Mudam-se as organizações criminosas e as cidades, mas fórmula acaba se repetindo, ou adaptando-se à realidade local.
A indignação vai além da violência das extorsões, é triste a constatação de que, em um país no qual empreender é um ato de coragem diante da burocracia, da carga tributária e das instabilidades econômicas, é preciso também bravura para encarar bandidos que se colocam como obstáculo a quem quer gerar riquezas para o país com o próprio trabalho, além de propiciar serviços acessíveis a quem tanto precisa.
A cobrança dessas taxas fere a própria noção de cidadania, visto que impede o desenvolvimento pleno das cidades para aqueles que vivem nela.
Prefeitos, governadores... nem mesmo o presidente da República é dono do país. O Congresso faz as leis, o Judiciário as aplica. É inadmissível que traficantes determinem o que pode e o que não pode.
A coluna de Vilmara Fernandes mostrou que essa prática vem sendo adotada nos bairros da Grande Vitória dominados pelo Terceiro Comando Puro (TCP). A Polícia Civil informou que “a principal liderança dessa facção já foi presa, em ação no final do ano passado, além do irmão dele, pego pela Polícia Militar, que também exercia papel de controle no mesmo grupo”.
As lideranças podem até estar atrás das grades, mas as extorsões continuam. O desmonte dessa engrenagem não depende somente das prisões, já que o tráfico substitui seus líderes com rapidez.
Combater essas demonstrações de poder e controle de territórios é urgente no Espírito Santo. Não pode faltar estratégia e planejamento. Porque, em um piscar de olhos, poderemos estar ainda mais parecidos com o Rio de Janeiro. Não pode haver espaço para isso.
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