Chuva forte e constante, combinada a maré alta, já virou sinônimo de alagamentos no Espírito Santo. Aconteceu na última quarta-feira (16), como já havia ocorrido no fim de outubro e na última semana de setembro. É parte da rotina. Já há um certo costume com a situação. Porém, nunca há conformismo. Pelo contrário. O incômodo da população nunca deixa de existir e é reverberado instantaneamente nas redes sociais e também em espaços como este, na imprensa.
Vale realçar, entretanto, o aumento na frequência desses e outros eventos ainda mais adversos. Como as chuvas de granizo que foram registradas, recentemente, em Santa Maria de Jetibá, Águia Branca e na região do Caparaó. Situações que provocam transtornos, como dificuldades no trânsito; causam prejuízos, como destruição de residências, pontos comerciais e lavouras; e podem culminar em tragédias, tal qual a morte ocorrida em Rio Bananal no mês passado.
Problemas que se repetem justamente quando líderes mundiais estão reunidos na Cop 27, a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), no Egito. De lá, espera-se que saiam estratégias mais sólidas, de forma a serem cumpridos os planos já firmados para reduzir os impactos das mudanças climáticas para o futuro do planeta. Compromissos que envolvem a neutralização da emissão de gases do efeito estufa (GEE).
Na quantidade natural, esses compostos gasosos funcionam como uma espécie de “escudo” para o planeta. Ficam em volta da atmosfera e ajudam a reter o calor dos raios solares. Sem esses gases, a temperatura na Terra atingiria níveis muito baixos, inviabilizando a existência da maioria das espécies.
Nas últimas décadas, contudo, vem sendo registrado o crescimento da quantidade de gás carbônico, metano, ozônio, entre outros, na atmosfera. Para os pesquisadores, essa é a principal causa para o aumento na temperatura do planeta e todas as suas consequências em relação ao clima, como temporais, vendavais, tornados, seca etc.
As causas estão relacionadas à ação humana, que sempre gera impacto, nas mais diversas áreas de atividade. Mas exemplos na indústria e no agronegócio já mostram que é possível conciliar desenvolvimento e sustentabilidade. Essas iniciativas precisam se multiplicar, com a atuação consciente do setor produtivo, dos governantes e de cada cidadão. Durante o evento, na terça-feira (15), o governador Renato Casagrande apresentou um plano com 50 estratégias para neutralizar a emissão de gases do efeito estufa até 2050, em quatro áreas temáticas: Energia e Indústria; Transportes; Resíduos; e Agropecuária, Florestas e Uso do Solo.
Planos que exigirão um trabalho de conscientização nas empresas, em seus pactos de ESG (Governança ambiental, social e corporativa), tanto no Estado quanto no restante do país. E envolvem também políticas que incentivem a troca de veículos a combustão por modelos elétricos, com energia renovável, cuja participação no mercado ainda é ínfima.
Essas e outras ações ajudarão a demonstrar o compromisso ambiental do Espírito Santo e do Brasil em relação ao futuro. Porém, até que essas medidas se consolidem em um longo prazo, quantos alagamentos ainda serão registrados no Estado em dias de chuva? Quantos deslizamentos de terra? E, pior, quantas mortes ocorrerão em função de tragédias relacionadas ao clima?
Ainda no Egito, o governador destacou, dentro do plano de mudanças climáticas do Estado, o funcionamento do Centro de Inteligência da Defesa Civil, o financiamento para a remoção de pessoas em áreas de risco e os investimentos na contenção de encostas.
É preciso que essas medidas tenham efeito imediato. Não dá para apenas esperar passivamente, enquanto o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém o alerta de mais chuvas para o Estado até o próximo domingo (20).
As soluções precisam de urgência, em um trabalho contínuo de prevenção. Estado e municípios devem estar preparados, seja para o excesso, seja para a falta de chuvas. E a população também deve fazer a sua parte. Não jogar lixo em córregos, rios ou valões já é uma forma de minimizar os efeitos de possíveis temporais. O plano para mitigar as mudanças climáticas até pode ser para 2050, mas o de controle aos danos das chuvas é para “ontem”.
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