"Aqueles que têm o dever de nos dar segurança é que estão nos matando, logicamente com muitas exceções, mas têm ainda os policiais que estão malpreparados". Foi assim que o legista Glício da Cruz do Soares definiu a cena bárbara da morte de seu filho, o músico Guilherme Rocha, de 37 anos, em um condomínio de Jardim Camburi, em Vitória, em abril do ano passado.
O crime causou comoção pelas circunstâncias: um desentendimento entre vizinhos por conta do barulho durante a madrugada, os fatos registrados pelas câmeras do condomínio, o corpo estendido no chão após a barbárie, o desdém do policial com a morte. E também pela vítima ser um músico bastante conhecido na Grande Vitória.
Mais de um ano depois do crime, a decisão da Corregedoria da Polícia Militar pela demissão do soldado Lucas Torrezani de Oliveira, assim que for homologada pelo Comando Geral, será um importante passo para retirar da corporação um policial que, como lamentou o pai da vítima, não tem condições de continuar atuando nas ruas.
Ele está no presídio militar. Ainda em junho do ano passado, a Justiça aceitou a denúncia e decretou a prisão preventiva. O processo de expulsão da corporação levou mais de um ano para chegar à decisão pela demissão, e há de se questionar se não deveria ser um procedimento mais célere, sobretudo diante das circunstâncias do crime. É um caso que mostra que a ampla defesa garantida ao acusado não necessariamente precisa demorar tanto.
A demissão é um passo importante para a própria Polícia Militar. É assim que a corporação pode mostrar que não aceita determinados comportamentos, incompatíveis com o que se exige de um polícial. A morte banal de um vizinho que reclamava do som alto durante a madrugada por um agente de segurança é a antítese da proteção e da confiança depositada pela população na polícia. A demissão do soldado vai começar a fazer justiça.
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