Os pessimistas diriam que nada é tão ruim que não possa piorar. Quando o assunto é a BR 262, fica difícil se livrar dessa disposição de espírito ao ver que a importante rodovia do Espírito Santo, que já se encontrava em situação dramática, agora corre risco de colapso após as recentes chuvas. É um aniversário melancólico para a estrada. Ao completar 50 anos, figura como um exemplo da falta de planejamento e gestão das administrações públicas.
Não é de hoje que capixabas e turistas, empresários e motoristas de veículos de carga exigem a modernização da via. Com seu traçado perigoso e sua pista simples, a BR 262 já registrou 474 acidentes até outubro deste ano, apenas no trecho que corta o Espírito Santo. Mais de um por dia. Mas antes que os problemas de segurança e logística fossem resolvidos, algo ainda mais urgente se sobrepôs. O que era ruim piorou.
Para os antigos problemas, até agora pouco foi feito. E esse pouco encontrou pedras no caminho. A duplicação de minúsculo trecho de 7 km entre Marechal Floriano e Domingos Martins, conduzida pelo Dnit, foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União por indícios de irregularidades. Com isso, uma verba de R$ 54 milhões de emendas parlamentares, que se dirigia à estrada, teve seu trânsito desviado.
A longo prazo, a saída é a concessão, mas o trajeto até uma parceria com a iniciativa privada também é sinuoso. No passado, um leilão fracassou e outra articulação para oferta foi pavimentada, mas colapsou, como a estrada agora corre o risco de colapsar. O próximo leilão, marcado para o ano que vem, prevê que os 180 km da rodovia no território capixaba só estejam totalmente duplicados em 2040. Isso se nada der errado, o que demanda mais esperança do que um brasileiro pode dispor.
A incapacidade de o Planalto arcar sozinho com a conta é inegável. Neste ano, o dinheiro reservado pelo governo federal para toda a infraestrutura rodoviária foi de R$ 6,2 bilhões. Quase R$ 3 bilhões a menos do que o investimento necessário somente para a duplicação da BR 262, que é de R$ 9,1 bilhões, segundo a ANTT.
Mas o que se viu nos últimos dias é bem mais grave do que um traçado antiquado. Imagens de drone feitas pela TV Gazeta mostraram que a rodovia está à beira do precipício: em um curto trecho de 15 quilômetros, foram registrados 52 deslizamentos. Os prejuízos são incalculáveis com um colapso da BR 262. Acima de tudo, há o risco à vida. Em seguida, há o fato de que a estrada é arterial para a economia do país, por desaguar a produção de Minas Gerais e do Centro-Oeste para o Porto de Vitória. Turismo e agricultura capixabas seriam extremamente afetados.
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Não é razoável que a BR 262 espere por um contrato de concessão para ver problemas tão prementes resolvidos, da mesma forma que não se marca consulta para tratar uma hemorragia. O triste mas conhecido jogo de empurra de autoridades deve dar lugar à união de forças. Governos estaduais, bancadas federais e União precisam buscar uma solução para que os motoristas não tenham mais que se aventurar na BR 262, no pior sentido.
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