A missão da polícia é muito mais abrangente do que aplicar as leis. Desde as raízes mais antigas da palavra, ligadas à ideia de “governo da cidade”, já está dada a nobre tarefa de zelar pelo bem-estar do cidadão. A Polícia Civil do Espírito Santo traduz bem sua visão: “ser reconhecida pela excelência na defesa da dignidade da pessoa humana com a valorização e o respeito à vida e à cidadania.”
Para que não sejam essas apenas belas palavras, acerta a corporação ao afastar os policiais envolvidos em uma confusão em Vitória, na última segunda-feira (26). Os agentes foram flagrados em vídeo em uma altercação destemperada com um funcionário dos Correios, durante uma manifestação de policiais na Reta da Penha, uma das principais da Capital, por reajuste salarial.
Diante das cenas de nervosismo descomedido, que viralizaram nas redes sociais, o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, assinou o afastamento dos investigadores Mitri Guedes Paranhos e Luciana Maria de Souza, enquanto corre o processo administrativo. A medida zela pela transparência ao impedir qualquer interferência até a elucidação dos fatos.
A defesa dos agentes atribui a briga a uma conduta imprudente no trânsito por parte do funcionário dos Correios. Seja esse o motivo ou seja qualquer outro, dificilmente a sociedade pode admitir uma conduta tão instável de profissionais que têm como valor observar as garantias individuais.
O delegado-geral da Polícia Civil mostrou diligência desde o início. Já em um primeiro momento, foi firme ao apontar que as cenas gravadas não refletem o treinamento oferecido aos policiais.
“O policial civil recebe um treinamento na academia de polícia, no sentido de saber conduzir processos e negociações de conflitos. Quando sai dessa realidade, temos que intervir e estamos fazendo isso agora”, disse, acrescentando, muito justamente, que eles podem receber tratamento para controle de estresse. “Não podemos só punir, devemos cuidar”, declarou Arruda.
O afastamento é uma medida prevista no estatuto da corporação. Curiosamente, a Associação dos Investigadores de Polícia e o Sindicato dos Investigadores do Espírito Santo consideraram a medida “contrária aos preceitos legais”. Também classificaram de precipitada, ao tirar das funções os policiais das funções “antes de estabelecer uma apuração isenta, técnica, equilibrada e pautada na busca pela verdade dos fatos”. Ora, o afastamento ocorre exatamente para que a investigação seja transparente e justa.
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Não se trata de pré-condenar os investigadores, como alegam as entidades. Em um país com mais casos de abusos de autoridade do que seria aceitável – se é que algum número aceitável –, a Polícia Civil deve preservar a excelência da conduta de seus agentes. Um representante da lei não pode claudicar diante de seu cumprimento.
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