Moradores de Vitória estiveram, mais uma vez, no epicentro de uma guerra da qual são reféns há tempos. Na madrugada do último sábado (29), traficantes da região do Bairro da Penha e São Benedito tentaram invadir o Morro do Jaburu, margeado pelas avenidas Vitória e Cezar Hilal. A intensa troca de tiros assustou e tirou o sono de quem vive na região.
Ao amanhecer, policiais militares fizeram cerco no local e três suspeitos de terem participado do ataque ao grupo rival foram baleados e mortos. Outro suspeito já havia morrido em confronto entre os próprios criminosos. Ao fim, 11 pessoas foram presas e 14 armas apreendidas.
“Foi uma operação de guerra”, definiu o secretário de Estado da Segurança Pública, Eugênio Ricas, lembrando que alguns criminosos usavam roupas camufladas, para se esconderem no meio da mata. E quem está na trincheira dessa guerra são os policiais, que se esforçam ao máximo para combater os criminosos. Sem eles, a situação seria ainda pior. Mas essa luta não pode ser só deles. As forças de segurança também precisam de ajuda. Todos os poderes devem unir esforços para inibir as ações das facções no Estado.
Na maioria das vezes, essas ações criminosas concentram-se em uma mesma região. Levantamento realizado pela Polícia Militar e divulgado pela colunista Vilmara Fernandes mostra que o entorno do Bairro da Penha registrou quase metade dos confrontos com a polícia ocorridos em Vitória, nos últimos três meses do ano passado.
Confrontos que se estendem também por pontos diferentes da Grande Vitória e do interior do Estado. O pano de fundo é sempre o mesmo: disputa territorial pelo controle do tráfico de drogas. Após madrugada de terror de sábado (29), 70 policiais foram mobilizados para reforçar a segurança na região. Ações de saturação como essa são importantes, porém têm efeito momentâneo. É necessário que todos os poderes planejem estratégias conjuntas.
De parte da Polícia Militar, um projeto foi apresentado ao governo do Estado para transformar a realidade das regiões em conflito, como revelou Vilmara Fernandes. A proposta prevê uma série de medidas de cunho social, como alargamento de ruas e becos, regularização fundiária de imóveis, construção de mirantes, entre outras. Em vez de repressão, mais humanização e qualidade de vida àqueles que vivem uma rotina de medo.
Esse cuidado local é válido. Mas não dá para esquecer que, há tempos, o poderio dos traficantes que agem no Espírito Santo é reforçado por uma rede de apoio ao crime que vai além das divisas estaduais. É primordial que o enfrentamento a esses grupos também ocorra de forma integrada, como a força-tarefa da qual o Estado já participa com as polícias Federal e Rodoviária Federal. A União também precisa desenvolver um plano efetivo voltado a combater as organizações criminosas, em articulação com os Estados, de forma a reunir todas as forças de segurança.
O governo federal ainda deve buscar, em conjunto com o Poder Legislativo, uma reforma do Código Penal, que inclua penalizações proporcionais à gravidade dos crimes contemporâneos. De forma a acabar com o “prende e solta” que desmoraliza as polícias e a Justiça e mantém a sociedade à mercê de criminosos. Punições devem ser mais duras para inibir aqueles que queiram se aventurar no crime. Cabe ao Poder Judiciário, ainda, coroar esse ciclo, garantindo maior celeridade aos processos e aplicando o rigor da lei aos criminosos.
A soma de esforços deve estar à altura do desafio que se apresenta. É necessário haver constância de ações. Se não ocorrer uma articulação entre todos os poderes, combater o crime será como enxugar gelo. Os confrontos até cessarão por um tempo, mas logo voltarão a se repetir. Os policiais não podem continuar lutando sozinhos na guerra contra o tráfico. E a população também não pode seguir refém desse terror constante.
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