Por que a violência no trânsito não causa a mesma indignação da criminalidade?

Não bastassem as mortes registradas quase diariamente, há ainda as sequelas físicas e emocionais de quem escapa com vida. Na semana passada, uma mulher teve a perna amputada após ser atingida por um carro em Vitória

Publicado em 22/08/2022 às 02h00
Acidente em Vila Velha
O Corolla envolvido no acidente bloqueou duas das três vias da Avenida Luciano das Neves. Crédito: Divulgação/Guarda de Vila Velha

A comparação numérica mostra que os homicídios estão à frente das mortes no trânsito. No primeiro semestre deste ano,  466 pessoas foram assassinadas no Espírito Santo. No mesmo período,  foram 390 mortes em acidentes de trânsito.  A selvageria, contudo, é equivalente, e causa estranheza que a violência no trânsito ainda mobilize menos a sociedade na busca de soluções do que aquela provocada pela criminalidade. Em ambos os casos, são mortes violentas que poderiam ser evitadas.

Ainda persiste um argumento de que, no trânsito, as mortes podem ser acidentais e, por isso, inevitáveis. Mas a realidade é outra: o que mais se testemunha são ocorrências decorrentes de comportamentos negligentes e até mesmo criminosos. Beber e dirigir é crime, mas muitos motoristas ainda teimam em cometê-lo, com a certeza da impunidade. E assim somam-se acidentes nos quais há perdas humanas e materiais. Sem falar nas sequelas físicas e emocionais de quem escapa com vida.

Na quinta-feira (18) passada, dois acidentes chamaram atenção na Grande Vitória. Em Vila Velha, um motorista que, segundo a Guarda Municipal, estava alcoolizado e se recusou a realizar o teste do bafômetro saiu de uma garagem, derrubando o portão e  atropelando uma mulher que carregava um bebê. Em seguida, bateu em um ônibus. Um motorista prudente não causaria tanto estrago. A criança não teve ferimentos, e a mulher foi socorrida.

Naquele mesmo dia, ainda pela manhã, uma mulher precisou ter a perna amputada após ser prensada por carro contra um poste no bairro Gurigica, em Vitória. O motorista tentou fugir do local, mas acabou detido pela polícia. Outro comportamento lamentavelmente comum no trânsito: não prestar socorro às vítimas, o que também é crime. 

No caso de acidentes com motociclistas, a vulnerabilidade deles é óbvia, o que exige ainda mais cuidado. Na sexta-feira, uma motociclista perdeu a vida na ES 257, em Aracruz, após ser atingida por um carro que perdeu o controle na rodovia.

Isso sem falar nas colisões, que seguem fazendo tantas vítimas principalmente nas estradas: no primeiro semestre de 2022, foram 245 mortes decorrentes desse tipo de acidente, no qual os riscos se potencializam com a falta de uma infraestrutura viária adequada somada à imprudência dos condutores. 

Dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) relativos às mortes no trânsito apontam que houve um crescimento de vítimas fatais em acidentes por capotamento, com 37,5% de alta. No primeiro semestre de 2022, o Estado registrou 77 mortes ocorridas nesse tipo de acidente, contra 56 no ano passado. A perda de controle do carro também pode ser um indício de imprudência ao volante.

O que fica cada vez mais evidente é que o trânsito é o que as pessoas fazem dele. Um cidadão com postura exemplar na vida em sociedade precisa levar esse comportamento para dentro do carro, mas são muitos os que se transformam ao volante. Sem falar naqueles que acham que estão acima da lei. O Código de Trânsito Brasileiro existe para ser cumprido por todos, inclusive pedestres e ciclistas, para que haja civilidade nas vias.

É preciso se indignar com a violência, exigir soluções das autoridades e a devida aplicação da lei, onde quer que ela aconteça. No trânsito, ela ainda é inexplicavelmente relevada.

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