Prefeito preso em São Mateus: cenas que o brasileiro não aguenta mais ver

O que escandaliza é o roteiro da corrupção mais uma vez encenado na administração pública. Mudam-se os atores, mantém-se o enredo, com uma ou outra novidade aqui e ali. O déjà vu é inevitável

Publicado em 29/09/2021 às 02h03
Operação
Dinheiro apreendido na casa do prefeito de São Mateus, Daniel da Açaí. Crédito: Divulgação/Polícia Federal

Os números foram todos superlativos: 85 policiais de outros Estados foram mobilizados para a operação da Polícia Federal que resultou na prisão do prefeito de São Mateus, Daniel Santana Barbosa, o Daniel da Açaí (sem partido), em função da quantidade de mandados cumpridos em diferentes cidades: sete de prisão temporária e 25 de busca e apreensão. A Operação Minucius se desenrolou no município do Norte do Estado e em Linhares e Vila Velha.

Vultosas também são as cifras envolvidas, com o volume contratado pelas empresas suspeitas de integrarem o esquema criminoso de desvios de recursos públicos municipais ficando em torno de R$ 50 milhões. São 19 pessoas investigadas, incluindo o prefeito. Segundo a  Polícia Federal,  a Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF), as investigações indicam que o chefe do Executivo municipal  burlava licitações e realizava a contratação de empresas que pertencem a ele mesmo, controladas por laranjas.

Os números expressivos não param: a PF encontrou R$ 400 mil em dinheiro vivo na residência do prefeito, além de outros R$ 300 mil também em espécie na sede da prefeitura. E, para completar, 20 sacos pretos repletos de papel picado, recolhidos tanto na casa quanto no gabinete de Daniel da Açaí, uma apreensão que está sendo investigada como possível destruição de provas.

Do luxo ao lixo, ficam evidentes os excessos desse suposto esquema fraudulento. Os investigados poderão responder pela prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraudes licitatórias.

Mas o que escandaliza mesmo é o roteiro da corrupção mais uma vez encenado na administração pública. Mudam-se os atores, mantém-se o enredo, com uma ou outra novidade aqui e ali. O déjà vu é inevitável.  A investigação ganhou dimensão federal porque os atos ilícitos  envolvem os repasses que deveriam ter sido aplicados no enfrentamento da pandemia de Covid-19, o que mostra que nem a grave crise sanitária foi capaz de frear os malfeitos, pelo contrário, atiçou o oportunismo de pessoas que entraram na vida pública com a missão de melhorar a vida da população, mas acabaram investigadas justamente por dilapidar o patrimônio público.

Gestores com más intenções sempre enxergam a chance de encher os próprios bolsos à custa do sofrimento da população, sem arrependimentos. É triste constatar que aqueles que chegam ao poder para se apropriar do que é público não poupam nem a merenda escolar nem cestas básicas.  Não bastasse a crise econômica que assola o país, há ainda a crise de valores, que é endêmica. 

Uma operação para desbaratar um esquema de corrupção com essas proporções inevitavelmente recebe os holofotes, sobretudo quando coloca atrás das grades um chefe do Executivo. O prefeito Daniel da Açaí será investigado, dentro do processo legal, com direito à ampla defesa. Mas tem muito a explicar. Os cerca de 130 mil habitantes de São Mateus são os maiores interessados nesse desfecho. População que, em sua maioria, confiou o voto no atual prefeito em duas eleições e merece a satisfação sobre a destinação dos impostos que paga.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.