A Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares (PeNSE) de 2019, realizada pelo IBGE, apontou que 11,6% dos estudantes de 13 a 17 anos (1,3 milhão de alunos) deixaram de ir à escola no país porque não se sentiam seguros no trajeto entre a casa e a escola.
É impossível não se abismar com esse dado, pois fica evidente que os obstáculos para uma educação de qualidade se acumulam e estão além dos recursos escassos ou mal aplicados na área. Frequentar uma escola, ter um aprendizado estimulante, conviver com outros adolescentes em um ambiente saudável, tudo isso é um privilégio no Brasil. A educação é um direto básico garantido pela Constituição, mas constantemente vilipendiada.
O impacto da violência na vida das pessoas chega a ser imensurável. E o combate institucional à criminalidade, por meio do uso das forças policiais, acaba contribuindo para consolidar uma cultura do medo na população, em meio ao fogo cruzado que se instala sobretudo nas áreas mais pobres das cidades.
Em sua coluna desta semana em A Gazeta, o ex-secretário estadual de Segurança Nylton Rodrigues, falou do enfrentamento mais qualificado contra a criminalidade que deveria ser encampado sobretudo pelos prefeitos. "Tenho visto como exemplo de caminho fácil alguns prefeitos criando grupos táticos em suas guardas municipais e anunciando que enfrentarão o tráfico de drogas. Está evidente que é uma ação meramente populista, uma derrapada feia e sem efeito. Uma pena isso ainda ocorrer, porque na verdade é na mão dos prefeitos que está a valiosa possibilidade de adoção de medidas que impactarão diretamente nas causas da violência."
A violência é também ambiental. As precariedades da infraestrutura urbana — falta de iluminação pública, ruas sem calçamento, falta de saneamento, escassez de equipamentos públicos de lazer — separam a população dos bairros da cidadania plena de direitos. E a municipalidade pode fazer a diferença nesses aspectos, promovendo mais qualidade de vida para quem tem tão pouco.
Quando dizem que violência gera violência, isso vale também para as carências. As faltas abrem espaço para a criminalidade, para o recrutamento constante de jovens nas fileiras do crime. A ausência de perspectivas é a mãe da inconformidade.
O Estado detém o uso legítimo da força, e as polícias não podem se furtar de reagir se atacadas. Mas o enfrentamento da violência pelos caminhos estruturais é o que pode, de fato, provocar uma redução substancial e constante. É preciso olhar para as nossas cidades e encarar as principais carências da população dos bairros tomados pelo crime. No ano que precede as eleições municipais, este é um bom exercício para quem deseja ocupar ou permanecer no cargo: como combater a violência sem apontar uma arma?
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