Gangues criminosas não são capazes de se impor sem armas. É o que determina o poder na guerra do tráfico, a ponto de ter se tornado comum bandidos fazerem verdadeiras exibições de seu arsenal nas ruas, com tiros para o alto nos bairros dominados, e até mesmo nas redes sociais. Uma ostentação entre criminosos rivais, um terror para quem é obrigado a tê-los como vizinhos e uma afronta à sociedade e ao Estado democrático de Direito.
Em abril passado, o colunista Leonel Ximenes mostrou que nos três primeiros meses deste ano as apreensões de submetralhadoras no Estado já superavam os números totais dos anos anteriores a 2020, quando houve o recorde de 137 armamentos recolhidos. De janeiro a março deste ano, foram 54 armas retiradas de circulação, enquanto durante os 12 meses de 2019 e 2018, respectivamente, foram 33 e 15.
O crescimento exponencial é também resultado da eficiência policial, mas não se pode ignorar o aumento do acesso a esse tipo de armamento pelos bandidos. E o que provocou essa explosão de submetralhadoras foi justamente a produção artesanal, embora também sejam encontradas armas industriais nas mãos de criminosos, vindas ilegalmente de países como Rússia, Turquia e Israel.
Se o combate ao tráfico internacional de armas exige cooperação federal para ações de inteligência, sobretudo em fronteiras e portos, para conseguir reduzir a entrada de armamentos no Estado, essas apreensões mostraram também a necessidade de olhar para o próprio quintal, pois já havia ciência da fabricação em território capixaba.
O amadorismo da produção, contudo, não faz dessas armas semi-industriais menos letais que as originais. Daí a relevância da prisão de oito suspeitos de fabricar e vender armas e munições para traficantes de drogas no Estado, entre eles um fabricantes de armas artesanais da Serra que é considerado o precursor da produção no Estado. Se a apreensão de armas acaba sendo um resultado de varejo, colocar atrás das grades os responsáveis por abastecer os criminosos tem maior impacto na infraestrutura do tráfico.
As forças de segurança têm colecionado vitórias: em 2020, um armeiro foi preso em Cariacica e uma fábrica clandestina na Serra foi desarticulada. Em Vila Velha, um suspeito de fabricar armas para uma quadrilha do município também foi preso. A prisão de um manufaturador de armas em Conceição da Barra, Norte do Estado, em maio passado mostra que a produção não se restringe à Grande Vitória.
É um trabalho contínuo para a polícia, porque a substituição de peças no jogo do crime tende a ser rápida. Os fabricantes caseiros, em muitos casos, já tiveram experiência como torneiro-mecânicos, o que exige conhecimentos específicos, que podem ser repassados para aprendizes. O que se sabe é que a demanda é alta: o próprio armeiro preso no último dia 24 afirmou que ele acabava sempre sendo procurado pelos bandidos, sem necessidade de oferecer seus serviços.
A estratégia deve ser sistematizar essas prisões e o desmantelamento dessas fábricas de fundo de quintal, o que vai afetar a oferta de armas para os grupos criminosos. Ninguém é inocente de acreditar que o golpe será sentido sem reação, há outros fornecedores capazes de mantê-los armados, mas a desarticulação desse mercado clandestino é relevante. O crescimento das apreensões dessa produção semi-industrial nos últimos anos mostra o quanto a fabricação artesanal pode pode fazer falta se deixar de existir.
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