“A relação dele com o crime começou cedo, aos 14 anos”. É importante direcionar as atenções para essa frase. Mas, antes, é necessário um contexto.
Nesta semana, reportagem de Caíque Verli, da TV Gazeta, mostrou os detalhes da operação que enfim levou para a cadeia Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo. Tudo estava lá, relatado pelo repórter, das estratégias usadas pela polícia a partir de informações obtidas pelos serviços de inteligência, como o transporte dos policiais em um caminhão-baú para não chamar atenção, às imagens do bunker insalubre no qual o criminoso se escondia na casa dos pais.
Tudo impressiona. Mas é a fala de Caíque Verli, repetida no início deste texto, que realmente perturba. E justamente por isso precisa guiar corações e mentes não somente das autoridades de segurança pública, mas da própria sociedade.
De novo: “a relação dele com o crime começou cedo, aos 14 anos”. A biografia é do Marujo, mas poderia ser de qualquer traficante do país. Na hierarquia da criminalidade, é quase certo que outros recebam uma "promoção" e passem a comandar as ações, isso sem contar quando outro grupo toma as rédeas. O certo é que os espaços nunca permanecem vazios.
Especialistas, ou qualquer pessoa com bom senso, não se cansam de repetir que as fileiras do crime só serão reduzidas com educação de qualidade. Educação que transforme realidades, que prepare os jovens para a jornada da vida, na qual encontrem a cidadania, com trabalho e dignidade. A educação precisa ser a esperança de um futuro melhor para crianças e adolescentes.
Em 2022, o país registrou melhora no Índice de Desenvolvimento Humano, mas não o suficiente para se posicionar melhor no ranking mundial. A educação foi o único índice das três dimensões avaliadas pela ONU que não avançou no período, com queda na expectativa de escolaridade. Ou seja, foi o calcanhar de Aquiles na avaliação mais recente, que levou em consideração o período no qual o mundo começava a se recuperar dos impactos da pandemia.
Mas os desafios da educação vêm de antes. As precariedades do ensino, a falta de perspectivas, a sala de aula colocada na posição de antagonista... são questões que vão além dos investimentos públicos, envolvem a própria noção de prioridades dos dias atuais. Não se pode aceitar com naturalidade o ingresso de adolescentes de 14 anos no mundo do crime, por mais comum que seja essa situação atualmente.
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