Quando o proprietário de uma loja na Praia do Canto, em Vitória, teve as portas de alumínio que protegiam o controle de energia do estabelecimento roubadas no último dia 16, ele foi enfático, em entrevista à TV Gazeta: mais importante até do que prender quem furta é prender que compra o material furtado. A receptação é o que alimenta o mercado de crimes contra o patrimônio, obedecendo aos princípios da economia: se há quem pague, há demanda.
E não é preciso pagar muito pelos bens subtraídos. Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, registrou na última semana o roubo de dois bustos de bronze, em homenagem a figuras proeminentes da cidade. Em uma das ocorrências, a peça foi recuperada e a polícia conseguiu prender o ladrão e o receptador. O busto, que é avaliado em R$ 30 mil, foi vendido por R$ 150. Em muitos casos, os negociantes se aproveitam do desespero das pessoas que executam os furtos, não raro usuárias de drogas.
Em Vitória, uma verdadeira epidemia de roubo de fios de cobre vem provocando, além de prejuízos aos cofres públicos, apagões na iluminação pública e, mais recentemente, problemas nos semáforos. A prefeitura iniciou no ano passado uma troca massiva do material utilizado, passando a adotar o alumínio, mais barato e mais leve. Mas os ladrões seguem se apropriando de materiais encontrados no espaço público, um reflexo também da grave crise econômica atravessada pelo país. Se há interessados na compra, há quem esteja disposto a furtar. Até porque os crimes contra o patrimônio são o caso mais expressivo do prende e solta, a impunidade é um estímulo.
Atacar a cadeia criminosa acaba sendo, portanto, a forma mais eficiente. Na semana passada, uma operação da Prefeitura de Vitória apreendeu quase meia tonelada de fios de cobre em um ferro-velho clandestino em Consolação, a maior quantidade já aprendida na Capital. Somando-se às apreensões deste ano, o número chega a quase 1,5 tonelada.
Não importa a natureza do produto furtado, é importante que haja um trabalho contínuo de inteligência para cercar quem se beneficia da subtração de bens, públicos ou privados. A mesma lógica vale, para ficar em exemplos corriqueiros, ao roubo de celulares e ao furto de bicicletas. O atacado é sempre mais importante que o varejo, e se for atingido com eficiência acaba inviabilizando a própria prática criminosa.
Na sexta-feira (25), foi desbaratada uma quadrilha de roubo e receptação de motos, vendidas com documentos falsos, em Alfredo Chaves. Mais operações que sigam o rastro desses atravessadores são importantes para fechar o cerco contra crimes patrimoniais. A receptação é um crime parasitário que tem pena de reclusão de um a quatro anos, com qualificadoras que podem levar a oito. São aproveitadores que lucram com a insegurança da população e não podem sair impunes. E não há menor dúvida: um dos resultados dessas prisões é contribuir para a sensação de segurança, com a justiça sendo feita.
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