A última semana foi pródiga em declarações despropositadas ou inconvenientes do presidente Lula. "Se esse cidadão quiser, ele nem precisa conversar comigo. Ele só tem que cumprir a lei que estabeleceu a autonomia do Banco Central", uma acusação ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de manter a Selic a 13,75% ao ano.
As reiteradas reclamações de Lula sobre a condução da política monetária pelo Banco Central apontam para o calcanhar de Aquiles do atual governo até o momento, a economia. Ao jogar as responsabilidades para os elevadíssimos juros no Brasil, tenta aliviar o lado do governo, sem se preocupar com o efeito colateral: quando fala demais, desestabiliza o mercado, gera insegurança. Sendo que a maior preocupação do governo, a esta altura, deve ser com a nova régua fiscal do país.
No campo político, o deslize presidencial da semana jogou os holofotes para Sergio Moro, em dois momentos distintos. Em uma entrevista sobre o período em que esteve preso em Curitiba, o presidente lançou uma frase digna de seu antecessor no Planalto ao explicar o que dizia aos visitantes que perguntavam se ele estava bem: "Só vai ficar bem quando eu f.... com Moro".
E Moro voltou ao foco um dia depois de a Polícia Federal colocar na rua uma operação para desarticular um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o senador. "Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro." Uma postura nada republicana diante da gravidade do que é investigado. Um presidente não pode ser leviano a ponto de colocar as próprias instituições em suspeição. Há um exemplo bem fresco na memória de um presidente que seguiu por esse caminho.
Sim, é preciso lembrar de Jair Bolsonaro. As críticas ao seu comportamento falastrão tinham como fundamento justamente a necessidade de haver salubridade institucional para cuidar de suas prioridades, da recuperação econômica às reformas estruturantes. O Brasil precisa voltar a respirar, e Lula vai ajudar muito se deixar para trás os rancores pessoais em prol das necessidades coletivas.
O presidente precisa refletir melhor sobre suas declarações e posicionamentos para escolher as batalhas que de fato importam para o país.
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