Enquanto o Sul do Estado ainda se recompõe a duras penas das águas que destruíram zonas rurais e centros urbanos e há ainda a expectativa de mais chuva para este fim de semana, causa genuína indignação a notícia de que um radar meteorológico de última geração, amplamente propagandeado pelo governo estadual e pela Vale em 2013, parceiros no projeto, nunca tenha chegado a ser plenamente usado para reduzir os danos de temporais.
O equipamento, que foi apontado como o mais moderno da América Latina na época, emitiria alertas para a população com até três horas antes de chuvas fortes, permitindo, por exemplo, a retirada de moradores de áreas de risco.
O chamado Centro Capixaba de Monitoramento Hidrometeorológico (CCMH), que começaria a funcionar no primeiro semestre de 2014 em Portocel, Aracruz, teve investimento anunciado de R$ 20 milhões pelo Estado e de R$ 40 milhões pela Vale, segundo o site do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). Não há informação, contudo, de quanto chegou de fato a ser investido. O encerramento da parceria ocorreu em 2015, e tudo ficou por isso mesmo.
A descontinuidade de iniciativas mais ousadas em áreas tão sensíveis quanto a prevenção a catástrofes naturais mais uma vez repete a omissão do poder público em outras áreas igualmente importantes. Decisões tomadas por governantes que não sobrevivem aos seus mandatos e acabam esquecidas na bruma dos projetos que não vão para frente por divergências políticas ou mera vaidade. Quem paga o preço da falta de uma visão de Estado é o cidadão.
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Boletins meteorológicos mais precisos salvam vidas, por permitirem ações imediatas e coordenadas a partir das informações disponibilizadas. É o equivalente aos serviços de inteligência, tão necessários na segurança pública. Obviamente, são informações qualificadas que não podem ser engavetadas, como os relatórios do Serviço Geológico do Brasil que anteciparam, desde 2011, as medidas a serem tomadas para evitar tragédias como as vistas nos municípios do Sul do Estado. A natureza será sempre incontrolável, mas há ações demasiadamente humanas bastante capazes de mitigar seus efeitos.
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